O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) recebeu recentemente um financiamento de 300 mil euros da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), no âmbito do programa “Testar com Ciência e Solidariedade – COVID-19”. Esta verba permitirá tornar o processo de diagnóstico PCR mais rápido, avaliar as coinfeções com o SARS-CoV-2 e perceber se a infecciosidade e a agressividade das estirpes do coronavírus variaram ao longo da pandemia. Para isso, o i3S vai utilizar as mais de 32 mil amostras armazenadas no seu Biobanco de amostras nasofaríngeas.

“Já adquirimos robots para automatizar o diagnóstico à covid-19 e ter um maior controlo sobre a qualidade do processo”, explica Didier Cabanes, que coordena o Centro de Diagnóstico criado no i3S. “Além disso, estamos a fazer investigação tirando partido do biobanco de amostras nasofaríngeas, testadas molecularmente para o SARS-CoV-2. Esta coleção, que conta com mais de 32 mil amostras (um terço são de casos positivos), constitui uma ferramenta única em Portugal”, sublinha o investigador.

Com base nestas amostras, armazenadas desde o início da pandemia, os investigadores do i3S querem «avaliar as co-infeções com o SARS-CoV-2, ou seja, se existem outros agentes patogénicos, como bactérias ou fungos, que podem estar associados ao SARS-CoV-2 e se estes mudam sazonalmente, e ainda determinar se a infecciosidade e a agressividade das estirpes do SARS-CoV-2 variaram ao longo da pandemia.

“É expectável que, à medida que o vírus se vai adaptando aos humanos perca agressividade, mas têm aparecido variantes que devem ser devidamente testadas”, adianta Didier Cabanes.

Testes à vacina portuguesa já começaram

O i3S dispõe de um dos poucos laboratórios de Biossegurança nível 3 em Portugal e é nessa unidade que os investigadores estão a fazer o isolamento do vírus e testes de infeção.

A investigadora Luísa Pereira, líder do grupo de investigação «Genetic Diversity» e responsável por este laboratório, explica que “aqui trabalha-se com agentes de risco biológico da classe 3, ou seja, com micro-organismos que acarretam elevado risco individual. Para efeitos de testes de diagnóstico, o nível 2 é suficiente para o SARS-CoV-2, mas para experiências mais demoradas de manipulação do vírus, é aconselhável o nível 3, com regras de segurança muito apertadas e formação específica dos investigadores”.

É neste laboratório que o i3S está já a fazer testes em animais da vacina portuguesa, que está a ser produzida pela empresa Immunothep. “Vamos vacinar ratinhos e infetá-los com o vírus isolado por nós para ver se estão protegidos”, adianta a investigadora.

O isolamento do vírus e os testes de infeção serão realizados naquele que é um dos poucos laboratórios de Biossegurança nível 3 em Portugal. (Foto: i3S)

O programa «Testar com Ciência e Solidariedade – COVID-19» teve como objetivo apoiar projetos de Entidades Não Empresariais do Sistema de I&I, certificadas pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), para a Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico (IC&DT), centrados no desenvolvimento de atividades de investigação que possam contribuir para resolver os problemas criados pela pandemia COVID-19. Pretende-se, igualmente, reduzir a magnitude de problemas criados por outras potenciais pandemias, incluindo o desenvolvimento ou otimização de metodologias para testes.

O apoio a estes projetos contribuirá para que a comunidade científica portuguesa se posicione de forma competitiva no panorama internacional no que concerne ao estudo deste vírus.