Um estudo internacional, que envolveu investigadoras das Faculdades de Medicina (FMUP) e de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP) da Universidade do Porto, concluiu que Portugal foi o país em que existiu uma maior percentagem de pessoas a iniciar o consumo de substâncias que melhoram o desempenho e a imagem durante o primeiro confinamento provocado pela COVID-19.

Publicada na revista científica Frontiers in Psychiatry, a investigação avaliou não só o impacto das medidas restritivas impostas pela pandemia sobre a autoimagem e a prática de exercício físico excessivo, como também sobre o consumo de substâncias que melhoram a performance em sete países (Portugal, Reino Unido, Itália, Hungria, Espanha, Lituânia e Japão).

Os resultados revelaram que Portugal apresenta uma taxa de 11,9% de pessoas que começaram a usar estas substâncias com o confinamento, seguido da Itália, com 8,6%, e da Lituânia, com 6,1%.

Embora possam não ser nocivos para a saúde se consumidos uma só vez ou esporadicamente, como é o caso dos suplementos vitamínicos, chás e infusões, laxantes e anfetaminas, entre outras substâncias, os investigadores apontam os riscos associados a este consumo.

Objetivos do consumo podem ser o problema

Segundo Irene Carvalho, professora da FMUP, “o risco reside no consumo com o intuito de melhorar a imagem e o desempenho numa era em que a pressão social para se atingir o «corpo perfeito» é grande, associada a publicidade agressiva enganosa que promete resultados rápidos”.

Como acrescenta a investigadora do CINTESIS, “o perigo e o problema residem no facto de as pessoas se lançarem nesta aventura com a melhor das intenções, sem supervisão médica e sem saber o que está a acontecer”.

Também conhecidas como drogas de estilo de vida, estas substâncias abrangem uma grande variedade de produtos, incluindo esteroides anabolizantes, estimulantes sexuais, hormonas de crescimento, mas também outras que podem alterar as funções do corpo para aumentar o crescimento muscular, reduzir a gordura corporal e promover a perda de peso.

Segundo os autores, a insatisfação com a própria imagem corporal e a ansiedade relacionada com a aparência podem “motivar ainda mais esse consumo com o objetivo de melhorar o bem-estar físico e mental”.

“Níveis consideráveis” de ansiedade relacionada com a aparência

No mesmo estudo, os investigadores alertam também para os “níveis consideráveis” de ansiedade relacionada com a aparência que foram detetados em toda a amostra, destacando os números referentes a Itália (18,1%), Japão (16,9%) e Portugal (16,7%).

“Quase metade dos participantes que relataram a presença de transtorno mental antes da pandemia considerou que o distanciamento físico agravou o seu problema mental”, realçam os autores.

Os dados da investigação evidenciam ainda que a prática de exercício físico aumentou significativamente a probabilidade de as pessoas recorrem a estes produtos, com o Reino Unido e a Espanha a registarem o maior número de pessoas que praticavam exercício de forma excessiva ou problemática.

“Em vez de ser visto como uma forma de potenciar mais e melhor saúde, o exercício é cada vez mais associado a um caminho para melhorar a aparência”, escrevem os autores, realçando que a prática física excessiva já é “uma questão crescente de preocupação global”.