Com a forma de uma chama, a Cleft Toothbrush pode colocar-se, como uma peça extra, numa escova convencional. (Foto: DR)

A higiene dentária é uma parte essencial da nossa rotina. No entanto, pessoas com malformações na cavidade oral, como é o caso da fenda lábio-palatina (FLP), podem ter dificuldades numa tarefa aparentemente tão simples e rotineira. Rita Rodrigues, investigadora da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP), juntamente com a equipa transdisciplinar que investiga a fenda lábio-palatina, encontrou uma solução para este problema: a Cleft Toothbrush.

Com a forma de uma chama, esta escova inovadora – que pode colocar-se, como uma peça extra, numa escova convencional – permite uma higienização rigorosa das áreas de difícil acesso às pessoas com FLP, o que se traduz numa maior acumulação de placa bacteriana. Através da aplicação de movimentos circulares, a Cleft Toothbrush garante assim a remoção da placa bacteriana da área fenda sem causar lesões nos tecidos adjacentes. A sua ponta é flexível, o que torna a utilização simples. Além disso, e como refere Rita Rodrigues, “sendo um instrumento sem mecanismos eletrónicos ou mecânicos, terá um custo de produção atingível e, por isso, poderá chegar a um maior número de pessoas”.

A ideia surgiu quando Rita Rodrigues estudava na Universidade Fernando Pessoa, período durante o qual pensou na necessidade de criar uma escova de dentes para jovens com paralisia cerebral, de forma a que não dependessem da ajuda de terceiros para a tarefa. “Na altura já tinha esta ideia de contribuir para a sociedade de alguma maneira científica e por isso já tinha a ideia de vir a fazer a fazer investigação, que concretizei através do Doutoramento”, conta. O “clique”, como lhe chama, deu-se quando, em 2012, conheceu uma criança com fenda lábio-palatina. Imediatamente apresentou a ideia ao grupo, onde nasceu a ideia para desenvolver um outro modelo de escovas de dentes, adaptado a indivíduos com estas condições, melhorando não só a sua qualidade de vida como a das pessoas à sua volta.

“A Cleft Toothbrush permite que as crianças tenham uma melhor saúde oral, mas também ajuda a que os pais se sintam mais confiantes ao escovar áreas sensíveis com maior facilidade”, refere a investigadora, acrescentando que o complemento pode ser utilizado também por “indivíduos acometidos de lesões da cavidade oral por traumatismo ou sequelas de patologias”.

O grupo de investigação que criou a Cleft Toothbrush inclui cinco investigadores de várias áreas, entre elas a saúde e a engenharia: Rita Rodrigues (FMDUP), António Bessa Monteiro (Hospital Lusíadas), Maria da Conceição Manso (U. Fernando Pessoa), Maria Helena Fernandes (FMDUP), Joaquim Gabriel Mendes (FEUP) e Rowney Furfuro (Clínica Compor).

A eficácia da escova já foi testada num primeiro teste com uma criança de quatro anos, com FLP. Verificou-se uma redução significativa da placa bacteriana e tanto a criança como os pais ganharam uma melhor qualidade de vida. Além disso, foram já construídos alguns protótipos.

Tendo já submetido um pedido de patente, um dos principais objetivos de Rita Rodrigues e do grupo de investigação atualmente é fechar um parceiro industrial para desenvolvimento do produto com as suas características específicas e em tempo útil, sendo uma prioridade “testar e ter a certeza que responde ao que é pretendido”. A investigadora acredita que, antes de pensar em lucros, é prioritário saber responder a necessidades do mercado, mais ainda se tratando de questões de saúde: “Nós ainda estamos na variável do valor, não de custos. Primeiro é o valor que isto terá para o mercado e nós quisemos criar algo que realmente tivesse impacto social. Uma das preocupações é que o produto chegue à mão do utente como algo que foi desenvolvido para a pessoa, customizado para a pessoa. E que tenha impacto na sua vida diária”, conclui.