Radicado no Porto há cerca de 30 anos, Claudio Sunkel lidera o IBMC/i3S desde 2009. (Foto: i3S)

Claudio Sunkel, investigador e Professor da Universidade do Porto, fez 60 anos. O seu laboratório em Portugal fez 30 anos, a mesma idade que tem a sua descoberta da proteína POLO. Razões que motivaram Carlos Conde e Augusta Monteiro, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), em parceria com Raquel Oliveira, do Instituto Gulbenkian de Ciência, a “fazer uma comemoração com uma mistura equilibrada entre ciência e marcos históricos de Claudio enquanto mentor, cientista e diretor”. Um simpósio que, para quem assistiu, foi uma viagem no tempo pela história da ciência no Porto.

Àqueles que hoje dão corpo à investigação do laboratório Cell Division and Genomic Stability do i3S, juntaram-se os muitos “herdeiros da escola” criada por Claudio Sunkel. Os cientistas que nos últimos 30 se cruzaram com a investigação feita no seu laboratório trouxeram mensagens, mas também exemplos do legado científico de Sunkel.

Gerlin Wallen, representante da EMBO, falou do papel de Sunkel na ciência europeia. (Foto: i3S)

Paula Coelho, Álvaro Tavares e Torcato Martins, três gerações de estudantes de doutoramento de Sunkel, enviaram saudações de Cambridge, onde atualmente desenvolvem a sua investigação. Bill Sullivan e Scott Hawley, dos Estados Unidos, e Andrea Musacchio, da Alemanha, lembraram profícuas discussões científicas e momentos de boa disposição. Raquel Oliveira, vinda do IGC, e Hélder Maiato, do outro lado do corredor do i3S, ambos premiados pelo ERC, trouxeram novas do melhor que se faz de ciência em Portugal. Em algum momento do seu percurso científico, muitos passaram pelo laboratório de Claudio Sunkel. Todos são prova do trabalho feito pelo investigador ou, como no texto (de Guerra Junqueiro) escolhido por Carvalho Guerra para a abertura do evento, de fazer “parir a terra, palpitar o seio e germinar a semente”.

Carvalho Guerra, vice-reitor da Universidade de Porto nos anos 80, lembrou, durante a nota de abertura do simpósio, como conheceu Claudio Sunkel. O encontro entre os dois foi crucial para a instalação do laboratório de “Genética Molecular” no Centro de Citologia Experimental da Universidade do Porto. Esse centro foi o embrião do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), do qual Sunkel é diretor, que atualmente integra o i3S. Na mesma altura, Claudio Sunkel ingressava no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), trazendo “ar fresco à academia”, como classificou a investigadora Elsa Logarinho, num elogio reforçado por outros ex-alunos que passaram pelo palco das comemorações.

Carvalho Gerra, e antigo Vice-Reitor da UPorto, fez a nota de abertura (Foto: i3S)

Refazer a história contada neste dia de homenagem obriga a um retorno a Inglaterra, mais propriamente a Londres, no final da década 80, altura em que Claudio Sunkel, pós-doc de David Glover no Imperial College, descobriu uma proteína que denominou POLO. O investigador percebeu que as células deficientes nessa proteína acumulavam erros durante a divisão, demonstrando assim a importância da POLO no processo da divisão celular. Uma das características dessas células é o arranjo circular que os cromossomas assumem durante a divisão. A propósito do nome que o investigador deu à proteína, conta-se, dentro do universo científico, que ele escolheu esse nome por associar o aspeto das células às pastilhas de mentol Polo. Um mito, talvez, porque o investigador não confirma nem desmente.

Na passagem para a década de 90, Claudio Sunkel decide mudar-se para Portugal. Trazia na bagagem a vontade de continuar a estudar a divisão celular e uma mão cheia de novas técnicas em biologia molecular. Trouxe também um modelo animal pouco utilizado na época em Portugal: a mosca-da-fruta. É este conjunto de elementos a base da “escola” que funda no Porto. Os que por lá passaram e cresceram foram muito para além da POLO e da divisão celular e, por isso, o simpósio foi sobre «divisão celular, mas também sobre biologia do desenvolvimento, neurociências, envelhecimento, entre outros temas», justifica Carla Lopes.

Mesmo a POLO é hoje muito mais do que o descrito por Claudio Sunkel nos anos 80. Trinta anos volvidos fala-se na família de proteínas-tipo-POLO, uma família composta por várias proteínas de estrutura semelhante entretanto descobertas em todo o tipo de organismos, incluindo seres humanos. «A POLO é fundamental para o processo da divisão celular, e tem um papel preponderante na evolução de tumores, razão pela qual ela, e as suas homólogas, são seguidas atentamente», explica Claudio Sunkel. Há inclusive várias empresas farmacêuticas a estudarem drogas que atuam sobre a POLO, ou sobre proteínas da família, como possíveis alvos para oncoterapias.

Realizado no passado dia 13 de junho, este encontro foi uma viagem ao passado, mas “com olhos postos no futuro”, admite o próprio Claudio Sunkel. De repente ouve-se: “João, onde está o João?”, Sunkel procurava o aluno de doutoramento mais novo, o 25º, para provar a «renovação» e dinâmica do laboratório. A ausência temporária do João é, afinal, prova desse dinamismo: fora rapidamente ao laboratório por ter uma experiência a decorrer.

Os alunos e ex-alunos de doutoramento e pós-doc que se juntaram à comemoração

* este texto contou com a colaboração dos citados, de Anabela Nunes e Luísa Melo.