De Melgaço descemos até às aldeias de xisto de Góis, passando pelo Douro Verde. São 3 Lugares, 3 Filmes, 3 Conversas, o ciclo de cinema documental etnográfico que, nos dias 3, 10 e 17 de setembro, sempre às 21h30, marcará o regresso das noites ao ar livre no Pátio do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP).

A entrada para as sessões é livre, mas sempre sujeita a marcação prévia. Basta procurar o evento aqui e reservar o seu lugar.

Este é o segundo ciclo que o Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto (NEFLUP) promove, com três documentários geograficamente distintos. No grande ecrã do Pátio do MHNC-UP vamos ver o planalto de Castro Laboreiro, em Melgaço, as paisagens de um Douro que se faz cada vez mais Verde e as aldeias de xisto de Góis, no distrito de Coimbra. “São documentários sobre diferentes lugares e a possibilidade de conversar com quem esteve diretamente envolvido nos filmes e nas realidades que documentam”, diz-nos Luís Monteiro, presidente do NEFUP. O que liga estes três lugares geograficamente afastados? Um tema comum em etnografia: as dicotomias. Neste caso, o rural versus o urbano e a tradição versus a contemporaneidade.

Quem Manda Sou Eu!, de Vasco André dos Santos, é a primeira proposta, já para dia 3 de setembro. É um convite para deixar o silêncio entrar. Ponto de partida, é o silêncio que determina, também, o poder do som. O som da música, da dança e da festa que irrompe. Cruzando testemunhos com a paisagem, Vasco André dos Santos desenlaça dicotomias, tais como o património e inovação, ou tradição e contemporaneidade. Da centrifugação de elementos do passado extrai o elixir de um presente paradoxal. A figura central é o mandador (ou marcador), cujo poder (efémero e criativo) dura o tempo de cada contradança.

“Quem Manda Sou Eu!” de Vasco André dos Santos

O documentário toca questões fundamentais, afirma Luís Monteiro, logo a partir do título que remete para a “importância do mandador na execução destas danças repentistas e sempre irrepetíveis”. Chama ainda a atenção para o perigo do desaparecimento das danças (caso se transformem em “coreografias memorizadas”) e para “capacidade imaginativa e evolutiva do mandador como estratégia fundamental de sobrevivência”, acrescenta o diretor do NEFUP.

Quem Manda Sou Eu! é a leitura de um projeto, desenvolvido entre 2019 e 2020, de recolha e divulgação de contradanças e quadrilhas durienses do NEFUP. Mais do que a dança, diz-nos Helena Queirós, o documentário dá voz àqueles que “ainda detêm os saberes e as memórias”. O filme, acrescenta a vice-presidente do NEFUP revela “o lado pessoal e caloroso do processo de investigação” do qual, para além do website, resultou ainda o livro Contradanças e Quadrilhas Durienses e um CD homónimo.

“A Máscara De Cortiça”, de Tiago Cerveira

A Máscara de Cortiça passa na noite do dia 10 de setembro. Este documentário de Tiago Cerveira leva-nos até as aldeias da Serra da Lousã, ali na transição do distrito de Coimbra para Leiria, com o ponto mais elevado (Trevim) a 1.205 metros de altitude. Elemento fundamental das aldeias dominadas por sobreiros, assistimos às possibilidades de metamorfose da cortiça. Se pode ser colmeia, por exemplo, mais facilmente dá forma às máscaras que no Entrudo saem à rua, a correr as aldeias de Góis, a pregar partidas e a declamar mordazes Quadras Jocosas. Deixam os habitantes desnorteados, estes dias do vale quase tudo, em que “quem manda são os veados”. Assim é a corrida do Entrudo das aldeias do Xisto de Góis.

Fojos, de João Canijo e Anabela Moreira é o último documentário que lhe propomos. Logo à entrada deste lugar onde homens e lobos vivem lado a lado, ficamos a par das semelhanças entre uns e outros: “Os homens são como o lobo, só lhes falta ter o rabo. Andam de dia e de noite na figura do diabo.” E prosseguimos viagem por Castro Laboreiro. Bem no Norte do país. Uma espécie de “buraco do fim do mundo”, com montes a terminar “numa rua sem saída”, diz-nos a sinopse.  Lugar onde lobos se caçam em uivos de buracos fundos, no mesmo monte onde se levavam os velhos para morrer. Uns tão armadilhados quanto os outros. Pode marcar na agenda: 17 de setembro.

“Fojos” de Anabela Moreira e João Canijo

Tendo o NEFUP como missão “a recolha e divulgação do folclore e da etnografia portugueses, pensamos que a dinamização do ciclo 3 lugares, 3 filmes, 3 conversas seria uma forma privilegiada de cumprirmos a nossa missão”, conclui Luís Monteiro.

Não há como enganar. Dias 3, 10 e 17 de setembro, sempre à mesma hora (21h30), as dicotomias e os paradoxos da cultura nacional estarão num ecrã de cinema tão perto de si! A entrada para o Pátio do Museu faz-se pelo Jardim da Cordoaria. Não se esqueça de fazer a sua marcação aqui.