As áreas de mangal cobrem cerca de 23 mil hectares na China e são capazes de “limpar”  a água que é escoada da terra para o mar.

Estudar o papel das plantas de mangal como biorremediadores do ambiente na captação e retenção de poluentes, nomeadamente de pesticidas e metais prejudiciais à saúde humana, são os objetivos do novo projeto do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto, em parceria com o Instituto de Ciência e Ambiente da Universidade de São José, em Macau.

Típicas de ambientes tropicais e subtropicais, as plantas de mangal constituem habitats costeiros únicos, oferecendo uma grande variedade de bens e serviços aos ecossistemas e à sociedade. Na China cobrem, atualmente cerca de 23 mil hectares, depois de terem sofrido uma diminuição drástica de cerca de 50%, nas últimas décadas. Em Macau, as áreas de mangal estão constantemente ameaçadas pela descarga de esgotos industriais no estuário do Rio das Pérolas proveniente das cidades costeiras, para além da constante reclamação de habitat.

Patricia Cardoso, investigadora do CIIMAR, colaboradora e consultora deste projeto, refere que “estas plantas atuam como filtros biológicos retendo (até determinada capacidade) elementos diversos, tais como compostos químicos (ex. metais) e orgânicos (ex. pesticidas), com capacidade de acumulação em organismos marinhos, os quais servem de alimento para o ser humano”. Entre os diferentes tipos de poluentes existentes destacam-se os pesticidas e os metais tais como o cádmio, chumbo e zinco que uma vez em excesso podem causar graves consequências ambientais, ecológicas e ao nível de saúde humana.

O projeto prevê a caracterização espacial / sazonal dos níveis de metais e pesticidas mais relevantes, em áreas cobertas por mangal em contraste com áreas sem mangal. Posteriormente, estes serão analisados em diferentes organismos da cadeia alimentar presente nas mesmas áreas. O trabalho de campo será complementado com algumas experiências laboratoriais em que se pretende avaliar a capacidade de acumulação e os efeitos citotóxicos de exposição a estes compostos em espécies chave como é o caso de alguns bivalves (ex. ameijoa vietnamita) com elevado interesse comercial, e de que forma poderão ter um impacto para a saúde humana.

“Apesar dos numerosos estudos já efetuados sobre fitorremediação, pouca atenção tem sido dada ao papel dos mangais na bioacumulação e efeitos citotóxicos (avaliação da toxicidade ao nível celular) de poluentes, nomeadamente pesticidas na cadeia alimentar e, consequentemente, na saúde humana”, revela a investigadora.

Através da implementação deste projeto, financiado pela FDCT, é possível compreender melhor o papel dos mangais na proteção da fauna, do ambiente envolvente e consequentemente na saúde humana contra esses poluentes e estabelecer possíveis estratégias de gestão e conservação.