O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) é uma das instituição que integram o consórcio internacional NANOCULTURE, que se propõe a procurar respostas sobre os efeitos da utilização de ferramentas nanotecnológicas nos organismos produzidos em aquacultura.

A utilização de ferramentas tecnológicas em diversas áreas de produção tem avançado nos últimos anos. Um destes exemplos é a utilização de nanopartículas sintetizadas artificialmente, ou seja, partículas por definição com tamanho mil vezes inferior ao milímetro. A aquacultura é um dos setores industriais que mais tem crescido economicamente e que tem procurado novas soluções para os processos de produção através da utilização de nanopartículas. Entre as aplicações mais interessantes encontram-se sistemas de desinfeção e purificação da água ou o tratamento e controlo de doenças do pescado.nanote

Contudo, como resultado da sua utilização frequente, o ambiente aquático pode acabar contaminado com um número elevado destas nanopartículas. Na verdade, é ainda desconhecido o risco da contaminação do pescado, assim como da população humana, por via da exposição não intencional dos consumidores a nanopartículas, através do consumo de pescado contaminado.

É neste contexto que surge então o projeto NANOCULTURE, cujo objetivo principal é então avaliar os riscos e minimizar a presença de nanopartículas em aquaculturas da região Atlântica. “As nanopartículas estão em maior concentração no ambiente e daí surgiu o interesse de nos voltarmos para a aquacultura e a presença destas partículas no ambiente aquático”, explica Mário Araújo, investigador do projeto no CIIMAR.

O projeto vai ser implementado ao longo dos próximos dois anos. Entre os objetivos propostos inclui-se o de “perceber o trajeto das nanopartículas quando ‘entram’ nos organismos”, nanomedicina, nanotacrescenta o investigador.

Um esforço conjunto

O NANOCULTURE junta as mais valias do CIIMAR e de mais cinco instituições europeias da região Atlântica: o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia em Braga (INL), Universidade de Santiago de Compostela, Cluster Tecnológico de Aquacultura da Galiza, Universidade de Vigo e Centro de Investigação Marinha Indigo Rock (Irlanda). Conta ainda com parceiros associados da Escócia (SAMS) e França (PoleAquimer).

“Alguns colegas estão a trabalhar a observar as nanopartículas em amostragem ao nível dos tecidos e outros estão a tentar perceber se estas partículas interferem ao nível das proteínas e das suas funções”, explica Mário Araújo.

No caso do CIIMAR, o projeto vai envolver uma equipa liderada pelo investigador Alexandre Campos, que conta já com vasto conhecimento em organismos aquáticos e no estudo de efeitos de contaminantes ambientais a níveis biológico, fisiológico e molecular.

Para além de se centrar no envolvimento da sociedade e das entidades beneficiárias do projeto, a equipa do CIIMAR vai também participar diretamente no estudo dos efeitos da exposição a nanopartículas no funcionamento celular e das proteínas de organismos aquáticos como o pregado e o mexilhão. Aos investigadores portuenses caberá igualmente avaliar a componente ecotoxicológica para presença, transformação, bioacumulação e efeitos de nanopartículas de titânio e de prata em produtos de aquacultura da região Atlântica.

No contexto deste consórcio espera-se ainda desenvolver sensores para a medição rápida de nanopartículas na água, assim como o estudo do risco do consumo dos alimentos expostos a estas nanopartículas para a saúde dos consumidores.

O consórcio NANOCULTURE é financiado a 75 % pelo Programa Interreg (FEDER).