Graças aos cidadãos voluntários no projeto GelAvista do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), foi possível detetar e acompanhar o bloom (florescimento) de Physalia physalis (Caravela-Portuguesa) que está a ocorrer nos Açores (ilhas do Faial, Terceira e S. Miguel) e na Madeira.

Influenciada por ventos e correntes de superfície, aquela que é a espécie mais venenosa do grupo dos organismos gelatinosos existentes em Portugal é frequentemente avistada nesta época do ano nas nossas praias. Também por isso, este não é um fenómeno assim tão pouco habitual no caso dos Açores e da Madeira, embora as imagens sejam impressionantes, com milhares de exemplares desta espécie de medusa venenosa a dar à costa.

Ainda assim, estes blooms têm sido a cada ano mais frequentes tanto nas ilhas como na costal de Portugal continental. O pico deste fenómeno situa-se entre abril e junho, altura em que é possível ver milhares destes exemplares, que vivem em grandes colónias.

Nos Açores (ilha de S. Miguel) também estão a ser registados avistamentos de águas-vivas (Pelagia noctiluca) e no continente português registaram-se muitos avistamentos de veleiro (Velella velella).

Cuidado com o que pisa!

A espécie Physalia physalis vive na superfície do mar graças ao seu flutuador cilíndrico e apresenta um flutuador em forma de balão de cor azul transparente e, por vezes, com tonalidades lilás e cor-de-rosa, cheio de gás. Debaixo de água os seus tentáculos podem chegar aos 30m de comprimento e são altamente urticantes e capazes de provocar graves queimaduras.

A picada por Caravela Portuguesa é extremamente dolorosa. Os sintomas incluem dor forte e sensação de queimadura, irritação, vermelhidão, inchaço e comichão. Algumas pessoas podem inclusive ter reações alérgicas graves, como falta de ar, palpitações, cãibras, náuseas, vómitos, febre, desmaios, convulsões, arritmias cardíacas e problemas respiratórios.

Segundo a equipa do GelAvista liderada por Antonina dos Santos, investigadora do CIIMAR e do IPMA, “é importante relembrar que não se deve tocar nos tentáculos, mesmo quando a Caravela portuguesa aparenta estar morta na praia.”

Os investigadores relembram por isso os cuidados a ter em caso de contacto com os tentáculos de uma Caravela-Portuguesa: “deve limpar bem a zona afectada com água do mar e retirar quaisquer pedaços de tentáculos que possam ter ficado presos na pele. Poderá aplicar vinagre e compressas quentes e deverá procurar assistência médica” indica a equipa do projeto GelAvista, reforçando a informação disponibilizada online.

Cidadãos cientistas

A desenvolver a sua atividade desde 2016, o programa GelAvista envolve os cidadãos na recolha de informação sobre a ocorrência de organismos de aspecto gelatinoso na costa Portuguesa. Pretende-se deste modo alertar a população e transmitir informação científica sobre as espécies, bem como os cuidados a ter em caso de contacto direto com a pele.

Qualquer ocorrência desta ou de outras espécies de organismos gelatinosos pode ser comunicada ao programa GelAvista através do email [email protected] ou da app que se encontra disponível para sistemas iOS e Android.

Na página de facebook do GelAvista são frequentemente partilhadas as mais recentes ocorrências de organismos gelatinosos em Portugal, e no sítio gelavista.ipma.pt está também disponível informação sobre as espécies.