Um dos compostos detetados é produzido em grande quantidade na Spirulina, uma microalga aprovada para consumo humano. (imagem: CIIMAR)

Um artigo científico publicado no âmbito do projeto CYANOBESITY pelo Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) revela metabolitos de cianobactérias marinhas com potencial para tratamento da obesidade e outras doenças relacionadas com o metabolismo de lípidos.

Muitos organismos marinhos como as algas ou as cianobactérias são conhecidos por produzir substâncias que podem servir como fonte de compostos para tratamento de doenças humanas. Com o objetivo de identificar compostos derivados de cianobactérias marinhas com atividade na redução de lípidos neutros, a equipa liderada por Ralph Urbatzka, investigador do CIIMAR, acaba de publicar um trabalho na revista Marine Drugs onde revela compostos que podem ser úteis no tratamento da obesidade ou doenças relacionadas.

O trabalho, que envolveu outros investigadores do grupo dedicado à ecotoxicologia e biotecnologia azul do CIIMAR (BBE, Blue Biotechnology and Ecotoxicology Group), foi realizado no âmbito do projeto CYANOBESITY, deticado à detecção de compostos bioativos com efeitos sobre a obesidade e outras morbidades associadas à obesidade.

Trabalho liderado pelo investigador Ralph Urbatzka envolveu membros do BBE – Blue Biotechnology and Ecotoxicology Group do CIIMAR. (Foto: CIIMAR)

No estudo Chlorophyll Derivatives from Marine Cyanobacteria with Lipid-Reducing Activities” foram identificados dois derivados da clorofila nas cianobactérias marinhas que mostraram ter capacidade de reduzir os lípidos neutros, como é o caso dos triglicéridos. Um desses compostos, o hydroxy-pheophytin a, já é conhecido da comunidade científica, enquanto que o outro, o hydroxy-pheofarnesin a, demonstrou ser um composto completamente novo.

Neste estudo inovador, foi testada e comprovada a capacidade de ambos compostos para a redução dos lípidos neutros em larvas de peixe-zebra demonstrando efeitos em todo o organismo e sem toxicidade detetada nas doses administradas. Para além, confirmou-se a atividade em adipócitos de ratinhos.

“Nestes bioensaios, as cianobactérias foram rastreadas quanto a propriedades benéficas para obesidade. As larvas de peixe-zebra permitem analisar os efeitos benéficos modelando a complexidade de um organismo inteiro e ao mesmo tempo dar indicações sobre a toxicidade”, refere Ralph Urbatzka, investigador no CIIMAR e coordenador do projeto.

Sendo que o hydroxy-pheophytin a mostrou ter a maior atividade, foi ainda estudada a sua presença em diversos produtos aprovados para consumo humano e detectada a sua produção em grande quantidade na Spirulina, a famosa cianobactéria com estatuto GRAS (“generally regarded as safe”) que poderá possibilitar o desenvolvimento de nutracêuticos ou functional food com atividade anti-obesidade.

“A presença de hydroxy-pheophytin a em materiais aprovados para o consumo humano, em particular na Spirulina, vai permitir o desenvolvimento de um novo nutracêutico para o combate de obesidade no futuro”.

Este estudo foi financiado no âmbito do projeto europeu “CYANOBESITY – Cianobactérias como fonte de compostos bioativos com efeitos sobre obesidade e morbidades associadas à obesidade”, com a duração de 3 anos, que envolve um consórcio de 4 países: Portugal, Suécia, Alemanha e Islândia. É co-financiado pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) no âmbito da ERA-NET Marine Biotechnology (ERA-MBT/0001/2015).