A caravela-portuguesa (Physalia physalis) é a espécie mais venenosa do grupo dos gelatinosos a ocorrer em Portugal e os seus avistamentos são cada vez mais frequentemente reportados pelo público, gerando um importante potencial para a comunidade científica. E é com o objetivo de obter dados sobre estes organismos gelatinosos que ocorrem no nosso país que o Laboratório de Plâncton e Crustáceos do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), em parceria com o do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), lançaram o o programa GelAvista, envolvendo o público na recolha de dados.

“Em janeiro de 2016 recebi um email de uma pessoa que me informava ter avistado uma caravela-portuguesa na praia do Guincho.” – explica Antonina dos Santos, investigadora do CIIMAR e IPMA que lidera o projeto – “Como a época do ano e o local não se adequavam ao meu conhecimento sobre a ocorrência desta espécie em Portugal, agradeci a informação e disse-lhe que o ideal seria ter uma foto para que eu pudesse verificar a espécie. A pessoa enviou a foto que se provou legítima e ser de facto uma caravela-portuguesa.”

Antonina Santos reconheceu nessa altura que havia muito desconhecimento sobre a ocorrência, distribuição e abundância sobre a Physalia physalis e as medusas em geral, e decidiu lançar o programa de Citizen Science “GelAvista” que, com a ajuda explícita do público, pretende obter mais conhecimento sobre os organismos gelatinosos de todo o país, incluindo os Açores e a Madeira.

Mas os objetivos não se ficam apenas pela recolha de dados. O projeto pretende usar os dados recolhidos pelo público para aumentar o conhecimento sobre a diversidade, distribuição, dinâmica e papel dos organismos gelatinosos nos ecossistemas marinhos e modelar e prever a ocorrência dos seus ressurgimentos rápidos.

Com esta iniciativa pretende-se ainda promover a literacia dos Oceanos, partilhar as informações necessárias para identificação das espécies que arrojam à costa, informar sobre a sua ocorrência nas praias do país, os riscos que correm quando entram em contacto com estes organismos assim como as precauções e cuidados a tomar.

Como participar?

Para ter uma participação ativa no projeto basta aceder ao website do GelAvista e descarregar a aplicação GelAvista para o telemóvel (sistemas Android, iOs e Huaweii). Ali, o utilizador pode receber avisos sobre ocorrências detetadas nas praias nacionais, mas também ser “cientista” e providenciar dados para a equipa utilizar.

O projeto conta ainda com os “encontros GelAvista” para partilha de experiências, conhecimentos e resultados aumentando a literacia em relação aos organismos gelatinosos e oceanos em geral, e com uma página de Facebook onde partilha informação regularmente.

A App está disonível para sistemas Android, iOs e Huaweii e permite receber e enviar dados. (Foto: DR)

Segundo Antonina dos Santos, o projeto também traz muitas vantagens para a comunidade científica. Entre elas destacam-se a “obtenção de uma série temporal longa para uma grande área geográfica de informação sobre o arrojamento dos organismos gelatinosos, a possibilidade de conjugar esta informação com dados ambientais (ventos, correntes, etc.) permitindo fazer alguma previsão da sua ocorrência nas praias”.

O GelAvista conta com as parcerias e colaborações regulares dos governos regionais dos Açores e da Madeira, a Câmara Municipal do Funchal e a Estação de Biologia Marinha do Funchal assim como o Observatório do Mar dos Açores e o Observatório do Ambiente dos Açores. Colabora também pontualmente com outras Câmaras Municipais, com  o Programa Bandeira Azul, o Oceanário de Lisboa, a  Universidade do Algarve e o Instituto Superior Técnico.