Depois de uma primeira campanha de amostragem em março e outra em junho com outros parceiros do projeto, quatro investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) viajaram recentemente até Cabo Verde para duas semanas de trabalho intenso ao abrigo do projeto “COAST: COnservation of mArine ecosystems around Santo Antão, Cabo Verde: implications for policy and society”.

O objetivo principal do projeto COAST é avaliar a vulnerabilidade das comunidades marinhas de Santo Antão e criar ações-piloto de conservação e restauro de ecossistemas e assim aumentar a sua resiliência.

O projeto – que envolve mais de uma dezena de entidades parceiras de Portugal, Espanha, França, Alemanha – também tenciona desenvolver oportunidades para a economia azul local.

Nesta terceira campanha de amostraram do projeto, Marina Dolbeth, Francisco Arenas, Jean-Baptiste Ledoux e Hugo Meyer contaram ainda com a companhia de Teresa Amaro, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), coordenadora do projeto, João Franco, do Instituto Politécnico de Leiria, e Alberto Queiruga, da Biosfera Cabo Verde.

 

A ilha de Santo Antão como caso de estudo

Santo Antão é um exemplo de uma ilha onde o crescimento azul pode ajudar a combater a pobreza, aproveitando a tradição e experiência dos habitantes na exploração dos recursos marinhos enquanto fonte de rendimento.

No entanto, é essencial adquirir conhecimentos sobre o estado ambiental dos ecossistemas e assim garantir a sua proteção. Porém as informações sobre os habitats marinhos de Santo Antão são escassas. Falta uma avaliação integrada da diversidade e dos recursos marinhos, informação crucial para apoiar regulamentos e diretrizes, em consonância com as necessidades de desenvolvimento socioeconómico local sustentável. Este foi o principal mote para a realização do COAST, combinando conhecimento local com técnicas inovadoras.

Uma colaboração promissora

O projeto está ainda no primeiro ano. Contudo, já foi possível constatar uma diversidade elevada de habitats e espécies de algas, invertebrados e peixes. Algumas destas espécies são formadoras de habitat (ex. rodólitos, ervas marinhas) que poderão ter um papel fundamental para a elevada biodiversidade marinha e manutenção de espécies emblemáticas para a região e economia local (ex. tartarugas, polvo e lagosta).

Nas palavras de Marina Dolbeth, “o saber ecológico local tem sido fundamental para executar o projeto! Os pescadores locais têm um conhecimento impressionante sobre o mar, e têm-nos facultado indicações fundamentais sobre os habitats marinhos da ilha”

É este conhecimento que o projeto procura promover através de ações de formação para a monitorização do ambiente marinho. Em consonância com a cátedra da Unesco liderada pelo CIIMAR e dedicada à investigação e à literacia dos Oceanos, o CIIMAR irá desenvolver ações direcionadas para escolas, professores e público em geral. Deste modo foi organizado em junho um primeiro workshop de identificação e valorização de algas.

A ilha de Santo Antão ainda guarda muitos secretos e há muito a explorar e sobre as características e funções dos habitats e espécies encontradas. Recebe a influência conjunta de ambientes temperados e tropicais que constituem caraterísticas únicas, e sua monitorização poderá funcionar como um sistema de alerta precoce para detetar impactos das alterações climáticas.

O COAST é financiado pelo programa Biodiversa, parceria europeia para a biodiversidade, que suporta projetos de excelência científica com impacto na sociedade e nas políticas.