O investigador Nelson Gonçalo Mortágua Gomes, da Rede de Química e Tecnologia/Laboratório Associado para a Química Verde (REQUIMTE/LAQV) na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), viajou recentemente até à Guiné Bissau com a missão de documentar e recolher diversas espécies de plantas medicinais, utilizadas regularmente por curandeiros locais.

Realizada no âmbito de um projeto piloto coordenado por Paula Andrade (Laboratório de Farmacognosia da FFUP e Grupo Natural Products – Chemistry and Bioactivity do REQUIMTE/LAQV, e em estreita colaboração com Luísa Araújo (MDS- Medicamentos e Diagnósticos em Saúde), esta expedição científica à Guiné-Bissau teve como objetivo principal a priorização de plantas medicinais para a descoberta de moléculas com potencial terapêutico, nomeadamente com propriedades anti-inflamatórias e antidiabéticas.

Passando por Eticoga, Cacheu, Varela, e maioritariamente pelo Arquipélago dos Bijagós, , a expedição – que se prolongou entre 30 de outubro e 13 de novembro – contribuiu também para a recolha de várias espécies da flora guineense, igualmente investigadas pelo grupo, com o intuito de identificar moléculas com atividade inseticida.

De acordo com Nelson Gomes, existem “particularidades fitogeográficas e etnobotânicas na Guiné-Bissau” que suscitaram o interesse do grupo de investigação da REQUIMTE/LAQV. Das cerca de 1500 espécies da flora local documentadas, “apenas 200 são utilizadas na medicina tradicional guineense”. Dessas, “cerca de 70 são ainda desconhecidas para a comunidade científica relativamente ao seu potencial no desenvolvimento de fármacos, suplementos alimentares ou cosméticos”.

Para além da descoberta de moléculas estruturalmente novas, com potencial para integração em pipelines de I&D no setor farmacêutico, o projeto prevê  igualmente a validação farmacológica da utilização etnomedicinal de várias espécies. A ideia passa por avaliar a sua eficácia terapêutica, mas também gerar dados relativamente à sua potencial toxicidade.

Das 200 espécies utilizadas pela medicina tradicional guineense, 70 são ainda desconhecidas pela comunidade científica. (Foto: DR)

Abrir caminho a novas colaborações

Da expedição à Guiné Bissau resultou igualmente a formalização de parcerias com instituições locais, entre as quais com o Instituto Nacional de Saúde Pública da Guiné-Bissau (INASA), o Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) e o Instituto Nacional da Pesquisa Agrária (INPA), com o intuito de promover a valorização da flora local.

Paralelamente, e como forma de fomentar a colaboração entre países e instituições, Nelson Gomes participou, como palestrante convidado, no Ciclo de Conferências ‘Pensar Pela Saúde’, organizado pelo Instituto Camões – Centro de Língua Portuguesa e pela Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau, que decorreu no Centro Cultural Português em Bissau.