Olga Afonso, IBMC

Olga Afonso está na Universidade do Porto desde 2002. (Foto: Jornal Vale mais)

A seleção foi feita pela American Society for Cell Biology (ASCB), um dos mais prestigiados organismos científicos internacionais no campo das ciências biológicas, e envolveu centenas de candidaturas a nível mundial. No final, Olga Afonso, estudante do Programa Doutoral em Biomedicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e investigadora do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), viu o seu nome incluído no grupo de dez finalistas da edição 2014 do ASCB Kaluza Prize, galardão atribuído pela ASCB e pela Beckman Coulter Life Sciences (empresa líder mundial na produção de instrumentos laboratoriais) para distinguir os melhores estudantes de Doutoramento de todo o mundo no campo da biologia celular e das ciências biológicas básicas.

Já lá vamos ao prémio. Por enquanto, fixamo-nos no trabalho que tem levado o nome da investigadora portuguesa e da U.Porto às “bocas” do mundo científico. É assim desde junho passado, quando a revista Science revelou o artigo assinado por cientistas do IBMC que promete “revolucionar o conhecimento sobre a vida e como ela se transmite”. Tudo porque demonstra que a região central das células em divisão é capaz de medir a posição dos cromossomas, estabelecendo assim um novo paradigma no controlo da divisão celular.

Descoberto no seio da equipa liderada por Hélder Maiato, da qual Olga Afonso faz parte, o mecanismo apresentado pelos cientistas portuenses funciona como uma “régua” que atrasa um dos últimos passos da divisão celular – a formação dos novos núcleos (anafase) – para garantir que os cromossomas se distribuem corretamente entre as células filhas.  Na base deste fenómeno está um “gradiente químico que deteta atrasos no afastamento dos cromossomas e retarda o processo até que todos tenham atingido uma distância mínima de segurança”, explica Olga Afonso.

Na prática, este mecanismo “mede a distância de separação dos cromossomas durante a anafase e «diz» à célula quando ela pode terminar todo o processo”, permitindo, segundo a investigadora,”a formação de duas células-filhas geneticamente idênticas entre si e à célula-mãe que as originou”.

O “grande impacto” do trabalho junto do meio científico  – reconhecido com a atribuição de uma bolsa de 1.5 milhões de euros pelo European Research Council – e o desejo de levar o nome do IBMC além-fronteiras acabaram por justificar a candidatura ao prémio Kaluza, destinado a projetos de investigação de excelência desenvolvidos por estudantes de doutoramento. Apesar de não ter chegado ao pódio (os três primeiros receberam prémios entre 3 mil e 5 mil dólares) Olga conseguiu ser a única cientista europeia presente no “top 10” da ASCB. Mas essa não foi a principal vitória. “O facto de ficar entre os dez finalistas demonstra que é possível fazer bons trabalhos em Portugal, principalmente, sabendo que as nossas instituições estão a ser reconhecidas ao lado de instituições de renome na investigação mundial!”, ressalta.

A outra recompensa cumpre-se diariamente nos laboratórios da U.Porto. “O trabalho na área de investigação pode ser muitas das vezes difícil e até frustrante, porque tem muitos altos e baixos. Daí estes prémios serem importantes, pois dão valor e reconhecimento ao nosso trabalho”, diz.

Para já, Olga Afonso terá a oportunidade de participar na Reunião Anual da ASCB, que vai decorrer de 6 a 10 de dezembro, em Fildadélfia (EUA). Nessa ocasião, a investigadora portuguesa e os restantes finalistas vão apresentar os seus trabalhos num mini-simpósio dedicado ao Kaluza Award.

Da U.Porto «desde pequenina»

Natural de Vila Nova de Cerveira, Olga Afonso chegou ao Porto em 2002 para estudar no curso de Farmácia da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto. Não seria, contudo, por muito tempo. “Fiz o primeiro ano, mas acabei por perceber que não seria o ideal para mim, uma vez que, dificilmente, no futuro conseguiria fazer uma carreira na investigação”, recorda. Não precisou de procurar muito para encontrar o curso que melhor lhe cabia: Bioquímica da U.Porto (lecionado pela faculdade de Ciências, em colaboração  com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, ICBAS), que concluiria em 2008.

Foi também em 2008, ainda durante o curso, que Olga iniciou a ligação ao IBMC. Para não mais sair. “No último ano da licenciatura, realizei um estágio de seis meses e foi nessa altura que tive a primeira oportunidade de fazer parte de uma equipa de investigação. Era liderada pelo professor Cláudio Sunkel [atual diretor do IBMC], onde aprofundei os meus conhecimentos sobre os processos biológicos que mais me fascinam: divisão celular e mitose”, recorda. Gostou tanto que faria desse o tema do projeto de doutoramento – pela FMUP – que começou a concretizar em  2011, quando passou a integrar a equipa de investigação de Hélder Maiato.

A divisão celular promete, de resto, ser o foco do trabalho da investigadora portuguesa nos próximos tempos: “Costuma-se dizer que quem trabalha na área da divisão celular, depois já não quer sair. E esse é o meu caso! Num futuro próximo, tentarei estudar em maior detalhe algumas das questões que ficaram ainda em aberto e mais tarde tenho intenções de poder aplicar os conhecimentos que já tenho noutros processos, mas sempre sem perder o contexto da divisão celular!”