Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) será recordada ao longo de todo o ano no espaço em que passou  boa parte da infância e da adolescência. (Foto: DR)

Espaço de referência na infância e adolescência de Sophia de Mello Breyner Andresen, o Jardim Botânico do Porto vai voltar a ser o “Jardim de Sophia” para acolher as celebrações do Centenário do nascimento da poeta portuense, a decorrer ao longo do ano na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP).

O arranque destas comemorações acontece já no próximo dia 25 de janeiro e coincide com a abertura da exposição fotográfica e documental “Pour ma Sofie”. Produzida por Oxana Ianin, com curadoria de Martim Sousa Tavares, neto de Sophia, esta exposição inédita convida os visitantes da Galeria a conhecer um pouco mais sobre a vida e obra da escritora através de uma viagem pelos livros que integram a sua biblioteca pessoal.

“A biblioteca da minha avó encontrava-se em 2015 dividida entre dois lugares: uma parte nas estantes da casa da Meia Praia em Lagos, que tanta inspiração lhe proporcionou, e o resto guardado em caixas em Lisboa. Foi durante as férias de verão que me interessei pela primeira vez por esses livros, e comecei a constatar que muitos deles estavam assinados, alguns contendo mesmo dedicatórias belíssimas, e aqui começou a nascer a ideia de fazer algo com eles”, revela Martim Sousa Tavares.

Desse trabalho de “triagem minuciosa”, que se prolongou até 2018, resultou a descoberta de mais de trezentos livros com dedicatórias, oferecidos por autores e artistas amigos de Sophia. Entre eles incluem-se nomes como os de Teixeira de Pascoaes, Carlos Drummond de Andrade, Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szenes, Miguel Torga, Eugénio de Andrade, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Jorge de Sena, ou Herberto Helder.

Para além dessas dedicatórias, eternizadas em fotografias únicas por Oxana Ianin, a exposição revela ainda dezenas de manuscritos inéditos, correspondência, traduções, ensaios e outros “tesouros” guardados na biblioteca de Sophia durante anos.

“Em suma, esta exposição faz-se desses dois elementos: os livros dedicados e os livros-guardiães de objectos, memórias, até segredos, pois no seu todo revelam uma parte do mundo de Sophia, a sua forma de estar e se relacionar com os livros e as pessoas que preencheram a sua vida”, explica Martim Sousa Tavares, acrescentando que “no fim do ano, os materiais exibidos juntar-se-ão ao restante espólio que se encontra na Biblioteca Nacional de Portugal, onde é património de todos os portugueses.

Após a inauguração, marcada para as 18h30 do dia 24 de janeiro, “Pour ma Sophie” ficará patente ao público de 25 de janeiro a 22 de fevereiro, de terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. A entrada é gratuita.

Esta exposição marca então o início do programa de iniciativas que, ao longo de 2019, irão celebrar na Galeria da Biodiversidade / Jardim Botânico do Porto a vida e a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). Mas não só. “Celebraremos também outros habitantes deste lugar, como o escritor Ruben A. e a Galeria da Biodiversidade, cujo brilho e dinâmica vieram dar nova vida ao Jardim de Sophia. Um lugar onde Sophia está presente em histórias escritas e vividas há muitos anos, e onde perdura bem vivo o seu legado”, apresenta a organização.

Outrora propriedade dos avós de Sophia de Mello Breyner Andresen, o espaço ocupado hoje pelo Jardim Botânico do Porto (antiga Quinta do Campo Alegre) foi palco de boa parte da infância da poeta no início dos anos 20 do século XX. Esta será, também por isso, uma oportunidade para reviver um local emblemático na vida de Sophia, que nele se inspirou para escrever muitos dos contos e poemas que a tornaram num dos maiores vultos da cultura portuguesa do século passado.

Mais informações em: mhnc.up.pt/sophia ou nas páginas da iniciativa no Facebook e Instagram.

Genérico publicitário para a RTP da apresentação do Centenário de Sophia na Galeria de Biodiversidade

Genérico publicitário para a RTP da apresentação do Centenário de Sophia na Galeria de Biodiversidade:“Um progresso que sacrifica a beleza é um progresso contra o homem; porque a beleza é o acordo do homem consigo próprio.” Este pequeno excerto foi retirado de uma entrevista de Sophia emitida no dia 7 de setembro de 1974. Fonte: Arquivo Histórico da RDP. Em sintonia com muita da sua obra literária, Sophia exalta nesta entrevista a necessidade de um retorno à pureza intelectual da beleza, verdade e sabedoria. O valor da combinação entre domínio estético e conhecimento intuitivo. Para Sophia, a beleza não deve ser pensada como um ornamento ou um luxo para privilegiados em salões e palácios. Deve, sim, estar na rua ao alcance de todos e na casa de cada um.

Publicado por Jardim de Sophia em Segunda-feira, 31 de dezembro de 2018