A demência é responsável por uma percentagem crescente de internamentos nos hospitais públicos portugueses. Todos os anos, mais de mil internamentos são registados como casos de demência com agitação comportamental, um dos principais sintomas neuropsiquiátricos da doença. Os dados são de um estudo que envolveu investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, e entretanto publicado na revista internacional Aging & Mental Health.

Entre 2010 e 2015, os investigadores identificaram um total de 6.586 hospitalizações registadas com diagnóstico de demência com alterações comportamentais, o que representa uma taxa de crescimento de 3,9% ao longo de seis anos.

Neste estudo inédito no contexto nacional, os dados demonstraram que a agitação nos doentes com demência prolonga a duração do internamento, já que o grupo de doentes com alterações comportamentais permaneceu mais tempo nos hospitais, comparativamente ao grupo sem registo de agitação.

Paralelamente, o registo de episódios de demência com agitação é mais frequente em doentes do sexo masculino, de menor idade, com mais comorbilidades associadas e internados de urgência, sendo ainda mais propensos a serem transferidos para outra unidade de saúde após o internamento.

A importância da prevenção

De acordo com os autores, os resultados do estudo reforçam a importância de se identificar e tratar precocemente as perturbações comportamentais como a agitação na demência, durante a hospitalização, o que frequentemente não ocorre.

“Desta forma, e com intervenções sobretudo não-farmacológicas, consegue-se tratar ou até prevenir estes episódios de agitação, evitando internamentos longos com consequências negativas para os doentes, nomeadamente, com repercussões na sua capacidade física, cognitiva e no agravamento da fragilidade”, explica Ana Rita Ferreira, psicóloga clínica e investigadora do CINTESIS.

Atividade motora excessiva e agressão verbal e física são alguns dos sintomas e comportamentos mais comuns nos doentes com agitação por demência, que podem representar riscos de segurança quer para os próprios doentes, quer para os cuidadores.

Referindo-se à doença como “um desafio global crescente associado ao envelhecimento da população”, os investigadores realçam a associação destas alterações comportamentais a resultados adversos para os doentes, como “uma progressão mais rápida para quadros de demência grave, maior risco de institucionalização prematura e excesso de incapacidade, de morbilidade e de mortalidade”, como refere Lia Fernandes, psiquiatra e professora da FMUP.

A par de Ana Rita Ferreira e Lia Fernandes, participaram neste projeto os investigadores Manuel Gonçalves-Pinho e Alberto Freitas, docentes da FMUP, e Mário Rodrigues Simões, docente da Universidade de Coimbra.