Um mês e quase uma centena de eventos depois, o Casa Comum Fest está a chegar ao fim. Mas não sem antes nos presentear com mais uma semana a romper estereótipos”, desígnio maior deste Festival que, tendo como “centro” a Casa Comum da Universidade do Porto (à Reitoria), quis perceber, afinal, o que pode causar a cultura. Surpresa, espanto, partilha, generosidade, emoção? Através do teatro, da poesia, da música, das artes visuais e da conversa partilharam-se ideias, convicções, histórias, conhecimento, cruzaram-se territórios. Criaram-se novas experiências. Abandonaram-se zonas de conforto. Vamos conhecer o programa da última semana?

Por ser uma semana especial, o convite também começa num dia invulgar: no domingo, dia 24 de abril, logo após o almoço. Às 15h00, será lançado, na Casa Comum, o mais recente livro da U.Porto Press que é um exercício de imaginação (possível) face a uma pergunta: E se, em novembro de 1807, a família real portuguesa não tivesse conseguido embarcar para o Brasil, horas antes de entrarem em Lisboa as tropas francesas? O que teria acontecido? Talvez o Brasil se tivesse dissolvido em repúblicas, como aconteceu na América Hispânica. A história do que poderia ter acontecido constrói o primeiro romance do filósofo e antigo Ministro da Educação do Brasil Renato Janine Ribeiro: A Neve Quente dos Trópicos. O Brasil sem a Família Real.

Também no dia 24, mas às 17h00, será lançado o livro Um Certo Porto, com a perspetiva do Cônsul Honorário da República Francesa no Porto, Manuel Cabral. A apresentação contará com intervenções do autor, da Vice-Reitora da U.Porto para a área da Cultura, Fátima Vieira, de Joel Cleto, João Pinho, Alvaro Negrello e Filipa Leal. No final do evento haverá um Porto de Honra.

Dia 25 de abril, a partir das 16h00, o Casa Comum Fest sai à rua. E cabe à Seiva Trupe a tarefa de chamar o povo. Maria Teresa Horta será apenas o pretexto para uma reflexão sobre a necessidade de agir e lutar contra as desigualdades e as injustiças, não só sobre a atual situação da mulher, mas sobre todos os  grupos estigmatizados. Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal é o mote que nos vai levar todos à Praça Gomes Teixeira, no Dia da Liberdade.

Encenado pelo dramaturgo Tó Maia (ao centro), o espetáculo “Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal” sobe ao palco da Casa Comum na tarde de 25 de abril. (Foto: Seiva Trupe)

À noite, há cinema na Casa Comum. Em exibição estará a Revolução de Maio (1937), de António Lopes Ribeiro, um filme de propaganda produzido pelo Estado Novo e que marca também o arranque do ciclo Memória, Cidadania e Liberdade. O filme será comentado por Joana Canas Marques e Pedro Alves.

Na quarta-feira, dia 27 de abril, a partir das 18h30, a proposta inclui uma viagem pela história da música, do Contemporâneo ao Barroco, o que, neste caso, significa de 2015 a 1720. A liderá-la estará o duo formado por Tiago Costa, ao violino, e Olga Vasilyeva, ao piano, que interpretarão obras de Colomina i Bosch, Messiaen, Prokofiev, Schumann, Mozart e Bach (ver programa).

Recordar Óscar Lopes

Era filho de um compositor e de uma violoncelista. Em colaboração com o historiador António José Saraiva (1917-1993) escreveu a História da Literatura Portuguesa. Foi ativista nas ações da oposição democrática antifascista. Militante (1944) e dirigente do Partido Comunista Português, passou pela prisão (1955-1956) e foi impedido de sair do país para participar em reuniões científicas no estrangeiro. Após o 25 de abril, colaborou no Comité do PCP e foi deputado à Assembleia da República Portuguesa pelo PCP. Membro ativo da Sociedade Portuguesa de Escritores, encerrada pelo Estado Novo, fez parte da comissão promotora da constituição da Associação Portuguesa de Escritores, de que foi presidente.

A instauração do regime democrático no país permitiu-lhe lecionar na Faculdade de Letras da U.Porto, onde foi nomeado professor catedrático. Jubilou-se em 1987.  Foi diretor da FLUP entre 1974 e 1976 e responsável pela criação do Centro de Linguística da U.Porto. De quem falamos? De Óscar Lopes, claro. É a ele que se dedica a primeira edição dos Vasos Comunicantes, encontros sobre personagens que se cruzam na Academia do Porto (Universidade e Escolas antecedentes) e nas principais instituições da cidade do Porto.

Marcada para o dia 28 de abril, pelas 18h00, a conferência contará com a presença de João Veloso, Pró-reitor da U.Porto, com responsabilidade dos pelouros da Promoção da Língua Portuguesa e da Inovação Pedagógica, e do jornalista e escritor César Príncipe.

Voltamos à música?

Dia 29 de abril, sexta-feira, a partir das 21h30, a Casa Comum tem dois projetos musicais para apresentar, ambos acarinhados pelo Comissariado Cultural da FEUP: o Grupo Vocal e o Grupo de Jazz.

O Grupo Vocal da FEUP, liderado por Fátima Serro, vai trazer nada mais, nada menos do que 17 cantores. Aberto a toda a comunidade da universidade do Porto, o GVF é, acima de tudo um grupo de pessoas que têm em comum um grande prazer em juntar as suas vozes para fazer música. Pode contar com um reportório eclético, incluindo temas gospel, chorinho, samba, pop e blues.

O Grupo de Jazz da FEUP, liderado por Paulo Gomes, é um projeto promovido pelo Comissariado Cultural da FEUP aberto à participação de membros da comunidade académica (estudantes, técnicos, docentes), visando a fruição e divulgação da música de jazz na FEUP e outras faculdades da Universidade do Porto. Apresenta standards do repertório jazz, com uma secção de metais com uma aproximação à sonoridade de uma big band. O programa completo pode ser consultado aqui. 

Grupo de Jazz da FEUP. (Foto: DR)

Para sábado, dia 30 de abril, são duas as sugestões. Começamos com cinema. O Ciclo Memória, Cidadania e Liberdade traz uma adaptação do romance de Carlos de Oliveira. Uma abelha na Chuva (1971), de Fernando Lopes, faz um retrato de um ambiente social rígido, com três classes bem demarcadas, que formavam o meio rural português da época: o povo, a aristocracia e a burguesia. Passa na Casa Comum às 21h00, com comentários de Clara Sottomayor e Jorge Gato.

E para fechar o festival, haveria melhor forma do que irmos todos dançar? Passa por aí a proposta do grande baile que o Núcleo de Etnografia e Folclore da U.Porto (NEFUP) vai levar, a partir das 21h30, à Praça Gomes Teixeira. A acompanhar os bailarinos estarão a orquestra do NEFUP e outros músicos convidados.

O Casa Comum Fest vai encerrar ao ritmo das danças do NEFUP. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

“Um projeto de intervenção social”

Política, ambiente, a luta contra a discriminação e a desigualdade, a militância pela inclusão e pela tolerância foram temas transversais ao Casa Comum Fest… que promoveu o diálogo entre várias instituições da U.Porto, diversos artistas e parceiros da cidade e tentou envolver toda a sociedade civil. Mais do que um evento cultural, foi “um projeto de intervenção social”, refere a Vice-Reitora da U.Porto para a área da Cultura, Fátima Vieira.

“A Universidade não é só local de formação especializada dos estudantes, é também um momento para a formação das consciências e preparação para a cidadania. Ao longo de todo o mês pudemos oferecer à cidade teatro, música, poesia, exposições, imensos debates, saraus científicos. E sabemos que temos de falar sobre todas estas questões se queremos preparar um futuro onde haja mais igualdade”, acrescenta a responsável

Fátima Vieira nota aidna que “a iniciativa Casa Comum é um local de saberes, voltado não só para a comunidade académica, mas também para a cidade, com o objetivo de promover atividades culturais diversas na lógica da democratização do acesso à cultura e ao conhecimento e da promoção de um espírito crítico, criativo, e solidário”.