Tudo começou no congresso internacional que, em 2020, deveria juntar no Porto dezenas de especialistas para debater a complexidade e a pluralidade do conceito de liberdade, no âmbito das comemorações do bicentenário da Revolução Liberal de 1920. A pandemia de Covid-19 acabaria, contudo, por impossibilitar a realização do evento em formato presencial. Mas não a reflexão que ele suscitou. A mesma que se propõe em A Construção da(s) Liberdade(s). Congresso Internacional Comemorativo do Bicentenário da Revolução Liberal de 1820 , título do livro coeditado pela U.Porto Press e pelo CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), com o apoio da Câmara Municipal do Porto (CMP).

O papel ativo do Porto na Revolução Liberal

Organizado com o propósito de homenagear o ADN revolucionário e liberal da cidade, o IX Encontro CITCEM: A Construção da(s) Liberdade(s) – Congresso Internacional Comemorativo do Bicentenário da Revolução Liberal de 1820 decorreu no âmbito no programa de celebrações promovido pela autarquia.

Através deste programa evocativo pretendeu-se assinalar um marco na história da cidade do Porto que foi decisivo para a transformação do Portugal oitocentista. Ao mesmo tempo, procurou-se “tornar presente algumas questões fundamentais em torno da Revolução Liberal Portuguesa”, gerando debate, despertando o sentido crítico e convidando “cada um à participação, ao envolvimento e à intervenção crítica e cívica”, afirmou Rui Moreira, presidente da CMP.

Quis-se, pois, celebrar aquele momento “de rutura e evolução na História da cidade e do país”, no sentido de “aprofundar o entendimento sobre o processo evolutivo do país e da cidade”. Para Rui Moreira o crescimento do “islamofascismo”, dos discursos populistas, da “antiglobalização, também ela associada a processos de demagogia”, considerada por alguns como “a falência do capitalismo democrático”, são alguns dos fenómenos que fazem repensar e sublinhar os valores da Revolução Liberal.

Inicialmente, o congresso esteve para se realizar a 14 e 16 de maio de 2020, duas datas simbólicas uma vez que coincidem com dois momentos em que a cidade do Porto se destacou nas lutas pela liberdade: o 14 de maio de 1958, com o início da campanha presidencial de Humberto Delgado contra a ditadura salazarista e o 16 de maio de 1828, com a revolução contra a restauração do absolutismo por D. Miguel. A situação pandémica adiou o evento para 5 novembro e a sessão de abertura acabou por acontecer por videoconferência.

Os construtores

São então os textos das intervenções proferidas na sessão inaugural do Congresso e de três dezenas das comunicações inscritas no evento que se reúnem na obra agora lançada pela U.Porto Press.

Para esta Construção da(s) Liberdades contribuíram nomes como Fernando Catroga e Vital Moreira, no capítulo dedicado às Revoluções pela(s) Liberdade(s); Artur Santos Silva e Pedro Carlos Bacelar de Vasconcelos, que escrevem sobre Pensar a Liberdade: ideologias, utopias e distopias; Rosa Capelão, Amélia Polónia e Laura Castro, que refletem sobre A Prática Social da(s) Liberdade(s); Luisa Moraes Silva Cutrim e Marcelo Cheche Galves, enquadrando o tema da Liberdade de Imprensa, Comunicação e Opinião Pública; e Milton Pedro Dias Pacheco e Francisco Ribeiro da Silva que apresentam Representações da(s) Liberdades.

Da Liberdade: Respirações é o livro de poemas de Ana Luísa Amaral que antecede todos os contributos aqui reunidos sobe o mote da Construção das Liberdades. Identidade é o primeiro poema: “atrás e nós/ os mastros// à nossa frente/ os monstros// e na parede/ os astros”.

A Construção da(s) Liberdade(s). Congresso Internacional Comemorativo do Bicentenário da Revolução Liberal de 1820 pode ser adquirido aqui.