Imagine uma plataforma digital que dá conselhos aos mais velhos sobre produtos e serviços que podem ajudá-los a viver de forma saudável e autónoma. Uma plataforma na qual podem saber a opinião dos seus pares que já experimentaram e onde podem pedir o conselho de especialistas. Agora imagine que os mais velhos não consultam essa plataforma porque têm medo.

Um trabalho realizado no âmbito do ActiveAdvice – Decision Support for Independent Living, projeto desenvolvido pelo CINTESIS/Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazer (ICBAS), concluiu que os mais velhos estão dispostos a participar em comunidades digitais, designadamente na área das tecnologias de vida assistida (Ambient Assisted Living – AAL, em inglês), desde que a segurança e a privacidade dos seus dados pessoais estejam garantidas.

Os resultados foram apresentados no 4.º Congresso Internacional da Saúde, que se realizou em Leiria, tendo valido o primeiro prémio à equipa de investigadores desta Unidade de I&D da Universidade do Porto, composta por Soraia Teles, Ana Margarida Ferreira, Pedro Vieira-Marques e Constança Paúl, a par de Diotima Bertel e Andrea Kofler.

Intitulado “Trust Requirements for the Uptake of Ambient Assisted Living Digital Advisory Services”, este trabalho analisou os requisitos de segurança exigidos por adultos mais velhos e pelos seus cuidadores informais, bem como por empresários e representantes governamentais de seis países europeus (Portugal, Áustria, Suíça, Holanda e Reino Unido).

Os autores concluíram que o nível da confiança dos utilizadores no sistema é “crítico” para a adesão a uma plataforma digital de aconselhamento em Ambient Assisted Living. As dezenas de pessoas ouvidas consideraram crucial que se garanta a segurança e a privacidade dos seus dados, muitos dos quais são considerados sensíveis, como dados de saúde, por exemplo.

Os “Baby Boomers” (pessoas nascidas entre 1946 e 1964) são os que mais questão fazem de preservar a segurança e a privacidade dos seus dados pessoais.

Os possíveis utilizadores de uma plataforma digital em Ambient Assisted Living apontam ainda como fundamentais aspetos relacionados com a personalização dos serviços de aconselhamento e com a envolvente da comunidade, incluindo a possibilidade de interação e a obtenção de feedback por parte dos pares e de especialistas. Simultaneamente, entendem que a plataforma deve ser “fácil de usar”.

Para os investigadores do CINTESIS, “estes resultados sublinham a necessidade de mudar o paradigma no sentido de modelos centrados no utilizador e do empoderamento do utilizador, bem como do desenvolvimento de mecanismos que garantam a segurança das interações, como mecanismos de autenticação, modelos de controlo de acesso e técnicas de visualização”.

Recorde-se que, na última década, as soluções de AAL, que visam proporcionar aos mais velhos uma vida mais saudável e autónoma através das novas tecnologias, têm conquistado um interesse crescente devido aos desafios colocados pelo envelhecimento da população. Apesar desse interesse, a adoção destas soluções pelos seus destinatários é tida como baixa, sendo importante perceber as suas atitudes e perceções para desenvolver uma plataforma pan-europeia verdadeiramente eficaz no aconselhamento e apoio à decisão nesta matéria.