Ilse Valenzuela Matus, antiga estudante do Mestrado em Design Industrial e Produto da Faculdade de Engenharia (FEUP) e da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP), atualmente a frequentar o programa Doutoral Do*Mar – Ciência, Tecnologia e Gestão do Mar, foi recentemente premiada na categoria “Design Industrial – Produto” do concurso “50 talentos, Ideas para un mundo Mejor”, inserido num dos maiores eventos ibero-americanos de design, o 9.º Encuentro BID (Bienal Iberoamericana de Diseño) enseñanza y diseño.

A edição 2021 do encontro, sob o mote “Diseñar y enseñar Diseño después de la pandemia”, decorreu de 22 a 24 de novembro, em Madrid, e permitiu o intercâmbio de ideias entre as universidades e os centros de formação de design de Portugal, Espanha e América do Sul no âmbito de políticas educativas e de reflexão sobre temas atuais da área.

O projeto premiado, fruto da dissertação final de mestrado de Ilse Matus, foca-se na necessidade de preservar e fomentar corais juvenis através da criação de substratos por via de impressão 3D. Na investigação, orientada pelos professores da FEUP Jorge Lino, Joaquim Góis e Augusto Barata da Rocha, foram ainda utilizados resíduos calcários com o intuito de promover a economia circular, tendo em conta as extensas áreas de extração mineira que Portugal possui.

“Através deste estudo, quisemos fornecer indicadores estatísticos para futuros testes de implementação, estabelecendo métodos eficazes para a propagação de corais transplantados e permitindo uma futura expansão a escalas maiores de implementação”, explica Ilse.

O projeto premiado resultou do estudo e aplicação de impressão 3D na criação de substratos que fomentem a propagação de corais, permitindo a sua expansão. (Foto: DR)

Devolver ao mar algo que temos tirado

Resultando num artigo publicado na revista Rapid Prototyping Journal, a investigação quis comprovar e qualificar a influência da morfologia e composição química de substratos de superfície texturizada no crescimento e propagação de corais tropicais transplantados. Para isso, foi utilizada a tecnologia de fabrico aditivo e moldes de silicone para converter amostras 3D em argamassa de calcário, cimento Portland e quartzo para a criação dos substratos.

“O período de monitorização e evolução das espécies decorreu ao longo de cinco meses. Apesar da lenta taxa de crescimento dos corais, os resultados estatísticos preliminares demonstraram-se favoráveis na presença de carbonato de cálcio e superfícies com texturas acentuadas.”, avança Ilse Matus.

A atribuição deste prémio internacional vem corroborar a importância de se “atuar em relação à problemática médio ambiental que afeta os nossos oceanos”. “Portugal tem o privilégio de contar com uma extensa zona marítima e com uma riqueza elevada de espécies nativas. Temos a obrigação de proteger esses ecossistemas que nos pertencem, e, como designer, sinto-me com a responsabilidade, e com um grande desafio pela frente, de contribuir e devolver ao mar algo que temos tirado”, confessa a antiga estudante da FEUP e da FBAUP.

Jorge Lino, orientador do projeto e professor no Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP, reitera a importância da temática para a sustentabilidade do planeta. “O fabrico aditivo tem permitido a introdução rápida no mercado de produtos personalizados nos mais variados setores. A Ilse, como designer e excelente profissional que é, agregou os seus conhecimentos e competências da engenharia para a criação de substratos sustentáveis com novos designs e incorporando resíduos de pedreiras. O trabalho de mestrado foi apenas um começo!”

Recifes artificiais em nome da sustentabilidade

E, na verdade, é mesmo o começo de um caminho dedicado à sustentabilidade marinha. “A vontade e motivação de dar continuidade a este projeto numa escala maior foi a principal razão para me candidatar ao programa de bolsas FCT para doutoramentos”, revela Ilse Matus, sobre o caminho que a levou a ingressar, este ano letivo, no Programa Doutoral Do*Mar, uma iniciativa conjunta entre a U.Porto e outras universidades espanholas e portuguesas.

O objetivo da investigadora passa agora por apostar no desenvolvimento de estruturas artificiais através de tecnologias de impressão 3D para promover a colonização de organismos oceânicos filtradores de partículas poluentes em zonas portuárias e costeiras.

Em simultâneo, a sua equipa uniu conhecimentos multidisciplinares com o Centro Tecnológico de Mármol, em Espanha, para uma candidatura a fundos europeus na categoria “Circular Economy and Environment” para um novo projeto – “LIFE 3D-EcoReefs” – com implementação na costa mediterrânica (Murcia) e algarvia (Lagos e Albufeira).

“Queremos desenvolver e fabricar recifes artificiais de grande porte a partir de tecnologias de impressão 3D, assim como utilizar e reaproveitar resíduos minerais, como mármores, calcários e resíduos biológicos de conchas de bivalves (mexilhões e ostras), para a criação e dosificação da argamassa caracterizada”, desvenda a investigadora.

O projeto de mestrado de Ise Matus vai permanecer em exposição, no contexto da Bienal Iberoamericana de Design, na “Muestra de Estudiantes bid_est 21”, patente até março de 2022, no Centro Matadero em Madrid.