A obra Ágora, editada pela Assírio & Alvim, valeu a Ana Luísa Amaral a conquista da edição 2021 do Prémio Literário Francisco de Sá de Miranda, distinção que a investigadora e professora aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) recebeu com “muita honra e alegria”. O anuncio foi feito pelo Município de Amares que, através do Centro de Estudos Mirandinos, promove a iniciativa.

“A poesia é feita do real”, diz-nos Ana Luísa Amaral, e está “sempre em ligação com o mundo”.  Sendo o voto uma arma de defesa da liberdade e da democracia, “de nada serve o voto se não houver voz”. E esta é a “voz dos refugiados” que surge agora vertida em poesia, sublinha a recente vencedora da maior distinção para a poesia no espaço literário ibero-americano: o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional de Espanha e pela Universidade de Salamanca.

O júri do concurso, presidido pelo professor da Universidade do Minho, Sérgio Guimarães de Sousa, afirmou que foi pelo “intenso diálogo artístico” estabelecido “com obras maiores da pintura” que o livro se destacou dos restantes candidatos. Um diálogo que, “de modo intimista e fulgurante”, reescreve “emblemáticos episódios bíblicos”, acrescentou o júri, considerando ainda Ana Luísa Amaral “uma das grandes vozes poéticas da contemporaneidade”.

Sendo um dos grandes livros da civilização, tanto na “violência” como na “solidariedade”, a Bíblia “é um manancial”, reconhece a escritora, sublinhando o quão herdeiros somos de um legado “judaico-cristão”. E embora a poesia surja como uma “tentativa de organizar e fornecer perfeição à imperfeição”, sabemos “no fundo, que essa perfeição caberá apenas a Deus”.

Em vez de peixes, Senhor,
dai-nos a paz,
um mar que seja de ondas inocentes,
e, chegados à areia,
gente que veja com coração de ver,
vozes que nos aceitem

Ana Luísa Amaral, in Ágora, Assírio & Alvim

O Prémio

Tendo por objetivo distinguir obras de escritores de língua portuguesa, esta segunda edição do Prémio Literário Francisco de Sá de Miranda recebeu, de acordo com o júri, um elevado número de candidatos, na sua maioria provenientes de Portugal e do Brasil. No total, o Prémio promovido pela Câmara Municipal de Amares, através do Centro de Estudos Mirandinos, contou com 202 candidatos, seis dos Açores, dois de Espanha, três de França, um de Moçambique, 49 do Brasil e 141 de Portugal.

Fizeram ainda parte deste júri a professora da Universidade da Madeira Ana Isabel Moniz e o vereador da Cultura da autarquia, Isidro Gomes de Araújo.

No valor de 7.500 euros, o Prémio deverá ser entregue a Ana Luísa Amaral durante o mês de julho. Em 2019, a distinção foi atribuída ao escritor Nuno Júdice, pelo livro O Mito de Europa, publicado pela Dom Quixote.

Sobre Ana Luís Amaral

Considerada uma das mais relevantes poetisas da atualidade, Ana Luísa Amaral nasceu em Lisboa em 1956. É licenciada em Germânicas e doutorada em Literatura Norte-Americana pela FLUP, onde desenvolveu atividade docente nos domínios de Literatura e Cultura Inglesa e Americana. Atualmente aposentada da docência, é membro da Direção do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, no âmbito do qual dirige o grupo internacional de pesquisa Intersexualidades.

Estudiosa da obra de Emily Dickinson e referência internacional no campo dos Estudos Feministas, conta com uma importante obra realizada no campo académico, da qual se destaca o ensaio Dicionário da Crítica Feminista, em coautoria com Ana Gabriela Macedo.

Tradutora de romancistas e poetas, Ana Luísa Amaral tem recebido múltiplas distinções ao longo da carreira, nomeadamente o Prémio Literário Casino da Póvoa (2007), o Prémio de Poesia Giuseppe Acerbi (2007), o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (2008), o Prémio Rómulo de Carvalho/António Gedeão (2012), o Premio Internazionale Fondazione Roma: Ritratti di Poesia (2018), o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho (2018), o Prémio Literário Guerra Junqueiro (2020) ou o Prémio Vergílio Ferreira (2020). No ano passado, a associação das Livrarias de Madrid atribuiu o prémio de Livro do Ano, na área de Poesia, à edição espanhola de What’s in a name, da escritora portuguesa.

Ana Luísa Amaral tem dezenas de títulos de poesia publicados, desde Minha Senhora de Quê (1990), além de já ter escrito teatro, ficção e vários livros para a infância. Traduzida e publicada em várias línguas e países, a sua obra é editada em Portugal pela Assírio & Alvim.

Pela Liberdade: Respirações é o último livro de poemas de Ana Luísa Amaral publicado na U.Porto Press.