É mais um evento integrado no ciclo Mulheres que fazem muito barulho e vai encher de palavras – e de música – os espaços da Casa Comum da Universidade do Porto (à Reitoria). É já no próximo dia 21 de maio, a partir das 21h00, que a socióloga Paula Guerra vai estar à conversa com Marta Abreu e Ana Deus. Haverá ainda espaço para uma performance musical e poética, aberta à cidade, e protagonizada por duas das 16 mulheres homenageadas na exposição que revisita a história do rock português no feminino na Casa Comum do Rock.

Quem é quem?

Há caminhos profissionais que se cruzam, descruzam e voltam a cruzar. Este é um desses casos. Marta Abreu integrou os Mão Morta no tempo do Primavera de Destroços (2001). Antes disso tinha sido baixista nas Voodoo Dolls (1994-1998) e chegou a ainda a tocar com os Cadeira Eléctrica (2013-2016). Mais recentemente, o período da pandemia trouxe-lhe uma nova aventura com uma voz que já conhece de longa data: a de Adolfo Luxúria Canibal.

Luxúria Canibal lia poemas seus ou de outros, escolhidos por si, e Marta Abreu criava ambientes sonoros para essas leituras. Em direto ou de forma pré gravada, durante os meses de confinamento, apresentaram eventos on-line e, apesar do minimalismo dos meios, a receção foi-se revelando muito positiva.

Após o confinamento, os convites para apresentações ao vivo foram acontecendo, naturalmente, até que entraram em estúdio para gravar o Goela Hiante. Um disco de poesia dita por Adolfo Luxúria Canibal com músicas de Marta Abreu. Será que vai passar por aqui a conversa com Paula Guerra? É só uma pista.

Da colaboração de Marta Abreu com Adolfo Luxúria Canibal resultou o disco Goela Hiante, editado em 2021. (Foto: DR)

Foram um grande sucesso (quem, no final dos anos 1980, não pedia “um irreal, um imaginário”? “Dá-me um irreal!” Não queríamos que nos dessem moral, antes um “irreal ideal social popular avançado”. Era um Irreal Social que nos levava a “surrealizar por aí”, muito pop para quem os percursos mais experimentais revelaram ser bem mais estimulantes. Falamos dos Ban, claro está, e de Ana Deus, mais concretamente.

Depois andamos todos a tentar dizer Três Tristes Tigres a ver se não nos enganávamos. Uma experiência que combina a voz de Ana Deus com textos da poeta Regina Guimarães, com quem a cantora portuense, de resto, já tinha vindo a colaborar na autoria de canções para teatro e vídeo.

Foi, no entanto, mais tarde, no Osso Vaidoso, com Alexandre Soares, que Ana Deus puxou realmente o lustro a toda a sua expressão artística. Sentia que era todo um trabalho realmente seu. Mas estes são só alguns, muito poucos, exemplos. Entre colaborações com bandas (como os Dead Combo) e projetos a solo há um percurso e uma experiência de mais de 30 anos de música por explorar.

Sob a batuta de Paula Guerra

A socióloga Paula Guerra é a “exploradora de serviço” nesta conversa que vai juntar mulheres de duas gerações diferentes, provenientes de cidades com universos musicais diferentes: Marta Abreu de Coimbra e Ana Deus do Porto.

Doutora em Sociologia e Professora no Departamento de Sociologia Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), Paula Guerra defendeu a tese de doutoramento sobre a “A instável leveza do rock – Géneros, dinâmica e consolidação do rock alternativo em Portugal de 1980 a 2010”.

Eu fui silêncio

Construída com base em poemas de várias autoras que, apesar da censura ou do silenciamento com que à época foram brindadas, lutaram para que a sua voz fosse ouvida, a performance da noite contará com leituras de excertos de Natália Correia, Maria Teresa Horta, Judith Teixeira, Adelaide Monteiro e Fiama Hasse Pais Brandão, entre outras. Mais pormenores sobre esta performance poética e musical? É vir à Casa Comum para conferir. Sábado, 21 de maio. A entrada é livre.

Livre é também a entrada na exposição Mulheres que Fazem Barulho!, que ficará patente ao público até 30 de setembro, no auditório da Casa Comum (Sala Casa Comum).

Com curadoria artística de Alexandre Lourenço e curadoria cientifica de Paula Guerra, a exposição, que é acompanhada por um programa de eventos paralelos, pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 17h30, e ao sábado, das 15h00 às 18h00.