Descobrir o «Lado Desconhecido do Cérebro» foi o desafio lançado este ano pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), com o apoio do projeto NCBio ERA Chair, como forma de assinalar a Semana Internacional do Cérebro, que arrancou a 13 de março.

No âmbito desta iniciativa, os alunos dos 7.º, 8.º e 9.º anos foram convidados a explorar os vários tipos de células que constituem o cérebro, fizeram zines (mini-revistas) e os seus trabalhos estão agora expostos no átrio do i3S até final do mês de março.

Há vida no cérebro para além dos neurónios

A maioria das pessoas e dos alunos conhece questões gerais do cérebro e do seu funcionamento. E as estrelas no ensino são os neurónios, as células nervosas com formas peculiares e que se conectam entre si para passarem impulsos nervosos. O que poucos sabem é que mais de metade do nosso cérebro é constituído por outro tipo de células, até recentemente negligenciadas na investigação. No seu conjunto denominam-se Glia, que deriva do latim “cola” porque, inicialmente, pensava-se que estas células da glia serviam apenas para manter os neurónios juntos no lugar.

Hoje sabe-se que as células da glia são diversas e com funções muito distintas: fornecer oxigénio e alimento aos neurónios, outras têm funções de isolante que garante o fluxo do impulso nervoso; e ainda outras desempenham funções imunitárias no cérebro. É esta parte desconhecida do cérebro que o i3S tomou como mote para as comemorações da Semana Internacional do cérebro.

Afinal, e como afirma Teresa Summavielle investigadora do i3S e membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Neurociências (SPN), “nos últimos anos, temos verificado que o mau funcionamento das células da glia contribui de forma relevante para as doenças neurodegenerativas e para outras doenças que afetam o cérebro”. Por isso, é importante que olhemos para o sistema nervoso de forma integral e na sua complexidade.

Um desafio para os “cérebros do futuro”

E foi precisamente isso que Matthew Holt procurou fazer quand0 desafiou os Clubes de Ciência Viva e os alunos dos 7.º, 8.º e 9.º anos a explorarem os vários tipos de células que constituem o cérebro, através de um concurso.

O objetivo, explica o investigador que integrou recentemente o i3S no âmbito do programa NCBio e trabalha em glia, passava por “evidenciar a diversidade de células existentes no cérebro. Além dos neurónios, queremos que outras células do cérebro sejam «descobertas» pelos alunos”.

Para isso, acrescenta o investigador, “a Unidade de Comunicação do i3S disponibilizou vários recursos para os estudantes explorarem e propusemos que usassem a imaginação e, de uma forma criativa e divertida, apresentassem o que aprenderam numa ZINE (uma mini revista)”.

As várias zines foram apresentadas durante uma sessão pública que se realizou no i3S, altura  em que foi anunciado o vencedor do concurso. Também nesse dia, os participantes tiveram oportunidade de conhecer vários aspetos do estudo das neurociências.

“Desde a visualização de vários tipos de células constituintes do sistema nervoso e de cérebros de diferentes modelos animais, até à importância do bem-estar animal para garantir a fidedignidade dos resultados experimentais. Puderam ainda observar como o comportamento motor em C. elegans (um verme), drosófila (mosca) e ratinho pode ser efetuado por alterações específicas do sistema nervoso”, explica Marta Teixeira Pinto, responsável pelo programa educativo do i3S.

Quanto ao concurso, o primeiro lugar foi conquistado por uma equipa do 9.º ano do Agrupamento de Escolas (AE) de Paços de Brandão, composta pelos/as alunos/as Santiago Tavares, Telma Reis, Maria Oliveira e Vitoria Aires. Ao pódio subiram também as equipas do AE Castelo da Maia (2.º lugar) e do AE D. Dinis, Santo Tirso (3.º lugar).

Foram ainda atribuídas menções honrosas a equipas do AE Paços de Brandão, AE S. Martinho do Porto, Escola Secundária de Santa Maria da Feira, AE Castelo da Maia e AE Carolina Michaelis.

Sobre a Semana Internacional do Cérebro

Todos os anos, a DANA Foundation e a FENS promovem internacionalmente uma semana dedicada ao cérebro, que consideram uma oportunidade para informar as pessoas sobre o progresso que está a ser feito nas neurociências, bem como no diagnóstico, tratamento e prevenção de distúrbios cerebrais, como o Alzheimer, Parkinson, AVC, esquizofrenia e depressão.

Em Portugal, esta semana é coordenada pela Sociedade Portuguesa de Neurociências.

As várias iniciativas promovidas em todo o país podem ser encontradas no site da Ciência Viva.