A Ciência poderá estar mais próxima de desvendar os mistérios que rodeiam os Denisovanos, uma espécie humana já extinta e sobre a qual existe muito pouca informação arqueológica. Uma equipa internacional liderada pelo cientista português João Teixeira, mestre em Genética Forense pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), atualmente a trabalhar na Universidade de Adelaide, na Austrália, descobriu mais evidências sobre o cruzamento entre os Denisovanos e o homem moderno nas Ilhas do Sudeste Asiático.

Num estudo recentemente publicado na revista Nature Ecology and Evolution, os investigadores examinaram os genomas de mais de 400 humanos modernos de forma a perceberem se existiram cruzamentos entre espécies mais divergentes e populações de humanos modernos que chegaram às Ilhas do Sudeste Asiático vindos de África há cerca de 50.000–60.000 anos.

“Descobrimos que as populações do sudeste asiático se cruzaram com os Denisovanos, mas não há evidência que o tenham feito com espécies mais divergentes”, refere João Teixeira.  

O DNA comprova, assim, que houve cruzamentos com aquele espécie. “O problema é que os Denisovanos supostamente viveram na Sibéria, e nós só sabemos da sua existência porque foi obtido ADN de um fragmento de osso”. 

“O nosso trabalho levanta questões importantes sobre as interpretações atuais do registo fóssil nas Ilhas do Sudeste Asiático, região que contém um dos mais ricos registos fósseis a nível mundial. A evidência genética aponta claramente para a presença de Denisovanos na região. Assim sendo, onde é que eles estão?”, pergunta o investigador, que foi recentemente distinguido com uma das mais prestigiadas bolsas de investigação australianas.

João Teixeira é licenciado em Biologia e mestre em Genética Forense pela Faculdade de Ciências da U.Porto. (Foto: DR)

Uma descoberta revolucionária?

Para João Teixeira, há duas fortes possibilidades que derivam deste estudo: “ou uma grande descoberta arqueológica está para acontecer e restos fósseis de Denisovanos serão encontrados brevemente na região. Ou então, alguns dos fósseis atualmente descritos nas Ilhas do Sudeste Asiático são dos misteriosos Denisovanos e não de espécies mais divergentes, como hoje se pensa”.

A solução, defende o investigador português, pode passar por se efetuarem análises de DNA e proteínas nos fósseis das Ilhas do Sudeste Asiático. “Se for demonstrado que alguns destes fósseis pertencem aos Denisovanos, estaremos perante uma verdadeira revolução no estudo das nossas origens”, conclui. 

A região do Sudeste Asiático contém um dos mais ricos registos fósseis a nível mundial, documentando pelo menos 1,6 milhões de anos de evolução humana. Este registo inclui três espécies já extintas: Homo erectus, Homo floresiensis e Homo luzonensis, grupos de humanos arcaicos que se estima terem divergido do homem moderno há cerca de 2 milhões de anos.

O mistério dos Denisovanos

Ao contrário dos Neandertais, que têm um extenso registo fóssil na Europa, os Denisovanos são conhecidos quase exclusivamente pelo seu DNA. A única evidência física da sua existência é um fragmento de osso de um dedo e outros vestígios encontrados numa caverna na Sibéria e, mais recentemente, um pedaço de mandíbula encontrado no Planalto Tibetano.

Esta evidência só foi confirmada através da análise de DNA e proteínas no referido material arqueológico, e muito pouco se sabe ainda sobre a morfologia dos Denisovanos.