Editam discos exclusivos de alta qualidade, fabricados em Portugal, promovendo a herança lusófona através de obras inéditas no formato, já raras ou em edições especiais. Este é o core do Lusofonia Record Club (LRC), empresa acabada de lançar por Léo Motta e Tomás Pinheiro, dois antigos estudantes do Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico (MIETE) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Desenvolvida ao longo do ano de 2021, a ideia do projeto foi alavancada e apoiada inicialmente a nível financeiro pelo StartUP Voucher, uma iniciativa da StartUP Portugal – Estratégia Nacional para o Empreendedorismo que dinamiza o desenvolvimento de projetos empresariais em fase de ideia promovidos por jovens até aos 35 anos.

Tendo a sustentabilidade como um dos pilares e uma curadoria voltada à diversidade, seja de géneros, nacionalidades, abordagens e idiomas, começaram a sua atividade em fevereiro de 2022 com o lançamento do disco Vol. I, de José Pinhal.

“Esgotámos a tiragem da primeira edição – cerca de 300 discos – em duas semanas. Lançámos ainda um tapete para gira-discos em parceria com a SOBRI, mais uma empresa nascida do StartUP Voucher, feito de cortiça e borracha reciclada, fabricado em Portugal.”,  avança um dos fundadores.

A criação da empresa foi essencialmente motivada pela identificação de uma lacuna no mercado, ou seja, uma oportunidade de fazer algo de novo e para o qual há procura – nomeadamente um foco cultural, no Norte, ligado ao vinil enquanto média ressurgente. Juntos, os dois alumni, ambos vindos do Brasil, acabaram por chegar a esta conclusão através das matérias dadas no MIETE.

“Desde o momento em que conheci o Tomás na primeira semana do mestrado, percebemos que havia um match natural entre os talentos de marketing, administração e operações dele com as minhas competências de comunicação, licenciamento e pesquisa, além da longa experiência de ambos no ramo dos eventos. Esta combinação foi potencializada pelo caráter multidisciplinar do mestrado na FEUP e, naturalmente, pelo teor das conversas em torno de inovação, empreendedorismo e o desenvolvimento de habilidades essenciais para a implementação de projetos”, confessa Léo.

O disco Vol. I, de José Pinhal, foi a edição de lançamento da dupla de antigos estudantes da FEUP. (Foto: Paulo Cunha Martins)

Apaixonado por música e pela produção musical, Léo Motta não teve dúvidas na escolha da temática da sua dissertação de mestrado, 100% alinhada com o propósito da empresa. No contraste entre a visão académica e a realidade do mercado, descobriu boas práticas e novas estratégias, estabeleceu diversos contactos com a indústria e validou pontos centrais da proposta de valor da marca.

Quem o comprova é José Miguel Oliveira, professor no Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP e orientador da tese assinada por Léo Motta. “O Léo tinha uma vontade forte de revelar música pouco conhecida a novos públicos, com vários problemas a resolver relacionados com a tangibilidade do produto, modelo de subscrição e recorrência das receitas, problemas logísticos, coerência editorial, etc. Está de parabéns, até porque – repare-se – tendo nascido e crescido no Brasil, está a conseguir ter sucesso na divulgação de artistas portugueses quase esquecidos no nosso próprio mercado!”, revela.

No entanto, a dupla empreendedora aponta um aspeto: se, por um lado, o LRC não assume um caráter particularmente inovador ou até tecnológico, por outro “é viabilizado por diversas ferramentas de tecnologia e favorecido pela localização geográfica”.

“O retorno será certamente atrativo”

João José Ferreira, diretor do MIETE, comenta também a importância de “ver nascer uma nova empresa no contexto do ecossistema deste mestrado”.

“Contextualmente, o MIETE abarca estudantes, docentes e algumas equipas de investigação da Universidade do Porto e/ou institutos de investigação associados. Este contexto proporciona uma dinâmica interessante em torno da inovação e do empreendedorismo, resultado de sinergias criadas dentro e fora das unidades curriculares do mestrado.”, avança.

Sinergias essas que vão permitir a Léo e Tomás tomar as rédeas deste mercado de nicho, já com o objetivo, para o primeiro ano de atividade, de lançarem 6 discos e terem 1500 unidades vendidas até ao final de 2022.

Apesar de os alumni confessarem que “há muitas características de um lifestyle business no LRC”, garantem que o trabalho “é feito com seriedade e mestria das quais não abrimos mão”, acreditando que “o retorno será certamente atrativo”.

“A nossa ideia inicial era garantir financiamento para realizar este primeiro ano, mas logo vimos que seria possível validar os conceitos e o modelo de negócio por conta própria, enquanto reunimos dados e perceções para apresentar uma proposta mais sólida a potenciais investidores”, remata Léo.