Equipa de investigação acredita que as “Langerhans cells” podem constituir a chave para a imunidade contra o vírus da Sida. (Foto: Wikipedia)

A investigadora Carla Ribeiro, antiga estudante de Bioquímica da Universidade do Porto e ligada atualmente ao Academic Medical Center (AMC) da Universidade de Amesterdão (Holanda), publicou um artigo na última edição da prestigiada revista Nature no qual é descrito o mecanismo que torna determinadas células humanas naturalmente resistentes ao vírus HIV.

O trabalho da cientista portuguesa foca-se nas “Langerhans cells”, um conjunto de células presentes em diferentes tecidos humanos, tais como a vagina, o prepúcio ou o intestino. Para Carla Ribeiro e o restante grupo de investigação do AMC, estas células  podem constituir a chave para a imunidade contra o vírus da Sida, uma vez que são capazes de restringir e impedir -por ação da proteína TRIM5alfa – a transmissão do HIV durante a atividade sexual (homossexual ou heterossexual).

Licenciada em Bioquímica pela U.Porto, Carla Ribeiro está há cinco no Academic Medical Centre da Universidade de Amesterdão. (Foto: DR)

A capacidade de resistência das “Langerhans cells” ao HIV já tinha sido anunciada na revista Nature Medicine em 2007, pelo mesmo grupo de investigação do departamento de Experimental Immunology do Academic Medical Center, liderado por Theo Geijtenbeek. Em declarações à agência Lusa, Carla Ribeiro explica que “nestas células o HIV-1 é destruído por um processo chamado autofagia, que ocorre dentro das células e é capaz de digerir micróbios como uma trituradora. A autofagia é ativada nas “Langerhans cells” através da ação de um fator restritivo que é funcional apenas neste tipo de células. O mesmo fator restritivo não funciona noutras células, sendo estas, por consequência, infetadas com HIV”.

De acordo com os investigadores, a descoberta agora divulgada pode abrir portas ao desenvolvimento, a longo prazo, de novos métodos preventivos contra o HIV, lançando também novas pistas sobre sobre como destruir o vírus após a infeção.

O artigo agora publicado na Nature é o resultado do estudo que Carla Ribeiro desenvolveu durante quatro anos, no âmbio do seu pós-doutoramento no AMCm num projeto financiado pela Netherlands Organization for Scientific Research. Licenciada em Bioquímica (2004) pela U.Porto (curso lecionado conjuntamente pela Faculdade de Ciências e pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar), a investigadora construiu  grande parte da sua carreira científica na Holanda. Doutorada pela Wageningen University & Research (2006), onde já tinha realizado um estágio científico de seis meses durante a licenciatura, ao abrigo do programa Erasmus, está desde maio de 2011 no Academic Medical Centre (AMC) – University of Amsterdam.