Investigadores do ISPUP associam a presença de sintomas depressivos em adolescentes ao envolvimento dos mesmos em lutas físicas. (Imagem: Pixabay)

Sintomas depressivos, como a tristeza, o cansaço ou a irritabilidade, influenciam o envolvimento dos adolescentes em lutas físicas, concluiu um trabalho conduzido por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

O estudo, levado a cabo por Sílvia Fraga, Elisabete Ramos e Henrique Barros, da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, procurou avaliar se a presença de sintomas depressivos em jovens, aos 13 e aos 17 anos, se relacionava com o envolvimento em lutas físicas com outros colegas.

Os autores avaliaram 1.380 adolescentes (743 raparigas e 637 rapazes), nascidos em 1990, e a frequentar escolas dos setores público e privado, da cidade do Porto. Os jovens foram avaliados aos 13 e aos 17 anos de idade, tendo sido analisado o nível de sintomatologia depressiva dos adolescentes nestes dois períodos e o envolvimento em lutas físicas aos 17 anos.

As conclusões revelam que, em ambos os sexos, a presença de sintomas depressivos está significativamente associada ao envolvimento em lutas físicas. “À primeira vista, esta relação parece paradoxal porque as componentes da depressão incluem a autoculpabilização e o cansaço e, portanto, parte-se do princípio de que a pessoa estará demasiado apática para a agressão. No entanto, estamos a falar da presença de um conjunto de sintomas muitas vezes incluídos no diagnóstico de depressão, mas não estamos a falar do diagnóstico de depressão propriamente dito. A irritabilidade é uma das componentes relevantes na escala da sintomatologia depressiva e poderá explicar a relação encontrada”, refere Sílvia Fraga, primeira autora do estudo.

Os resultados mostram ainda que os rapazes se envolviam mais frequentemente em comportamentos violentos aos 17 anos de idade, quando apresentavam sintomas depressivos relevantes nos dois momentos da avaliação (aos 13 e 17 anos). Já nas raparigas, observou-se que a participação em agressões era mais frequente entre aquelas que tinham sintomas de depressão aos 17 anos de idade, independentemente de possuírem, ou não, estes sintomas na avaliação anterior.

“Nos rapazes, é necessário que estes sentimentos estejam presentes há mais tempo para que estes os exteriorizem ou reajam, envolvendo-se em lutas físicas. Nas raparigas não encontramos esta relação talvez porque elas lidam com a persistencia destes sentimentos de outra forma”, acrescenta a investigadora.

A saúde mental dos adolescentes e o envolvimento em comportamentos violentos são questões prioritárias na área da Saúde Pública. Os resultados alcançados chamam a atenção para a necessidade de se estar atento a comportamentos agressivos, nomeadamente em contexto escolar (onde estes ocorrem com mais frequência), pois podem representar um primeiro indicador de alterações que frequentemente podem não ser percebidas.

O artigo “Depressive Symptoms and Involvement in Physical Fighting among Portuguese Adolescents” foi publicado na revista “Health & Social Work”.