À janela ouvindo a chuva na bananeira, Vendendo flores, Noite tranquila, Cisne, ou Flor da Yanan, são alguns dos temas do concerto que vai embalar a Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto, na noite do próximo dia 25 de fevereiro. Ao leme estará a instrumentista e vocalista chinesa Lu Yanan, antiga solista da Orquestra Filarmónica da China em Henan.

Radicada em Portugal há quase 20 anos, Lu Yanan é uma divulgadora da tradição musical de uma civilização de extrema antiguidade, com mais de 5000 anos de existência.

Abarcando uma população de 1 400 milhões de habitantes, integrando 56 grupos étnicos que se espalham por um território com mais de 9 milhões de km2, a música chinesa divide-se por diferentes tradições que tanto se podem distinguir por ligeiras variações como por diferenças dramáticas.

A identificação de um ritmo solto, sem acordes regulares, é, no entanto, uma as características que apresenta, assim como os intervalos de silêncio que dificultam o acompanhamento do ritmo.

Difere da música ocidental pela tentativa de captar “sensações divinas”, atribuídas à natureza. Se nos focarmos no “tempo”, arranca geralmente de forma calma, ficando progressivamente mais intenso e voltando a desacelerar no final.

É frequente que o universo da música tradicional chinesa se revista de um caráter descritivo, aludindo, por exemplo, a eventos históricos, observações da natureza ou estados de espírito.

O que vamos ouvir

Há 15 temas para descobrir, neste sábado à noite. Para além dos que foram já referidos, há outros com títulos bastante sugestivos como Barcos, uma música de estilo clássico da província de Henan que retrata o intenso brilho do sol refletido nos barcos que os pescadores observam enquanto se distanciam para descansar.

Mas há também Ameixa, uma obra tradicional da arte musical chinesa sobre o carácter nobre do perfume fresco deste fruto; Cisne, uma peça que retrata dois cisnes enamorados a brincar num lago e transmite a imagem do esvoaçar das aves; ou Porcelana Azul e Branca, sobre um amor antigo que vence a prova do passado e do presente, passando pelo túnel do tempo e do espaço. Denunciando que o encontro nesta vida é apenas para lançar as bases para o reencontro na próxima.

Instrumentos que se misturam com a história da China

Lu Yanan é mestre de dois instrumentos. Com mais de dois mil anos de história, pipá é considerado o rei dos instrumentos de corda chineses e um dos mais antigos da China. Da família dos alaúdes, tem quatro cordas e uma escala que se prolonga generosamente do braço do instrumento para a caixa de ressonância, proporcionando a execução de efeitos expressivos.

De acordo com documentos escritos na dinastia de Qin (aproximadamente 206 a.C.), o guzheng é também um dos mais antigos instrumentos chineses. Pertence à família das cítaras, muito popular no folclore chinês do povo étnico Han (por isso, também se chama hanzheng). Apresenta uma forma oblonga em que as cordas (entre 21 e 26), presas nas extremidades da caixa de ressonância, passam por um cavalete que determina a altura da nota. Também é conhecido como o piano oriental devido à amplitude de notas, o timbre, e a poderosa expressividade que possui.

Algumas peças – particularmente de pipá – poderão surpreender pela tensão, ou até agressividade de que o discurso musical é capaz, permitindo estabelecer paralelos com a expressão musical contemporânea ocidental. Mas prepare-se também para outras ligações estéticas.

Lu Yanan integra, por vezes, no programa tango ou música tradicional portuguesa. Para além da viagem por territórios sonoros longínquos, estas incursões por repertórios nacionais permitem uma surpresa renovada, à medida que vamos avaliando as qualidades sonoras dos instrumentos chineses, mas, desta feita, num contexto familiar.

Sobre Lu Yanan

Natural de Pequim, licenciou-se em Música pelo Conservatório Central de Música da Universidade de Beijing (Pequim) 1990, onde concluiu a Pós-Graduação em 1995.

Foi solista Instrumental (Pi’pa) da Orquestra Filarmónica da China em Henan entre os anos de 1997 e 2004. Integrou vários grupos académicos de pesquisa e desenvolvimento de novos sistemas musicais, nas cidades de Pequim e Shanghai para incutir na música tradicional chinesa uma renovada vitalidade.

Em 2000, foi convidada para dar vários recitais a solo ao longo de dois meses em diversas cidades da Finlândia. Na Expo Mundial de Xangai, realizou um Concerto no Pavilhão de Portugal (Pavilhão da cortiça) com o flautista Rão Kyao.

Organizado pelo Instituto Confúcio da Universidade do Porto, em colaboração com a Casa Comum, o espetáculo de 25 de fevereiro tem início às 21h30. A entrada é livre, ainda que sujeita à lotação da sala.