A investigadora Patrícia Henriques, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), conquistou uma das quatro Medalhas de Honra L’Oréal Portugal e Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) ao abrigo do prémio anual “Mulheres na Ciência”, integrado no programa internacional L’Oréal-Unesco For Women in Science.
A cientista vai receber 15 mil euros para desenvolver a GOcap®, uma tampa inovadora e reutilizável para cateteres usados em hemodiálise, que elimina bactérias com recurso a luz e grafeno sem recorrer a antibióticos.
As infeções associadas a cateteres são uma complicação frequente e grave em doentes com insuficiência renal, que dependem da hemodiálise para sobreviver. Estima-se que 3,2 milhões de pessoas em todo o mundo estejam nesta condição e que cerca de 80 por cento iniciam o tratamento com cateteres venosos centrais, ficando expostos a infeções que podem ter uma taxa de mortalidade até 15 por cento e custar mais de 37 mil euros por episódio.
A GOcap®, explica Patrícia Henriques, “utiliza luz próxima do infravermelho e óxido de grafeno para desinfetar o interior do cateter de forma segura, localizada e eficaz. É reutilizável, reduz a produção de resíduos plásticos e evita o uso de antibióticos, o que a torna uma solução sustentável e disruptiva”.
Para além de melhorar os cuidados prestados aos doentes em hemodiálise, esta tampa inovadora ira contribuir também para alterar a prevenção de infeções hospitalares, já que se trata de uma forma mais eficaz, sustentável e sem antibióticos.
“A concretização deste projeto permitirá gerar conhecimento científico numa área emergente: a aplicação de materiais à base de grafeno ativados pela luz como solução antimicrobiana em dispositivos médicos. Embora o potencial antimicrobiano do grafeno ativado pela luz já seja conhecido, os mecanismos de ação — como a combinação entre o aumento localizado da temperatura (efeito fototérmico) e a produção de compostos oxidativos (efeito fotodinâmico) — ainda não estão totalmente compreendidos”, sublinha a investigadora do i3S.
Este projeto, adianta Patrícia Henriques, “tem sido desenvolvido em articulação com o i3S, o INESC-TEC, o Hospital de S. João, a Diaverum (prestador global de serviços de diálise), e a startup GOTECH Antimicrobial, que co-fundei para assegurar a translação desta tecnologia para o mercado. Esta ligação direta entre ciência, clínica e indústria permite responder de forma eficaz a necessidades identificadas por profissionais de saúde e pela indústria, garantindo que o dispositivo está alinhado com a realidade hospitalar e com os critérios regulamentares e de adoção clínica”.
Ao combinar investigação fundamental com desenvolvimento tecnológico e validação clínica e regulamentar, “a GOcap® poderá servir de base para futuras estratégias de desinfeção fotoativada — sem antibióticos — aplicáveis a outros dispositivos médicos, posicionando Portugal e a Europa como líderes em soluções inovadoras para combater as infeções hospitalares e a resistência antimicrobiana”, acrescenta ainda a investigadora.
As outras medalhadas
Além de Patrícia Henriques, foram contempladas com uma Medalha de Honra L’Oréal 2025 as investigadoras Céline Gonçalves (Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), Universidade do Minho), Paola Alberte (IST-ID, Instituto Superior Técnico, em Lisboa) e Ana Rita Lopes (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa).
As quatro investigadoras, já doutoradas e com idades entre os 31 e os 37 anos, foram selecionadas entre várias dezenas de candidatas pela relevância dos seus projetos apresentados em 2024.
A seleção coube a um júri científico presidido por Alexandre Quintanilha, Professor catedrático jubilado da Universidade do Porto e investigador na área da Física.
A cerimónia de entrega das medalhas decorreu esta terça-feira, 27 de maio, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
Sobre Patrícia Henriques
Formada em Bioengenharia pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e doutorada em Engenharia Biomédica pela mesma faculdade, Patrícia Henriques iniciou o seu trabalho de investigação sobre biomateriais antibacterianos à base de grafeno para cateteres de hemodiálise no i3S, em colaboração com o LEPABE/FEUP.
Concluído o doutoramento sob a supervisão da investigadora Inês Gonçalves, Patrícia Henriques realizou depois um pós-doutoramento, também no i3S, tendo assumido de seguida o cargo de gestora de projeto de um Innovator Award da Wellcome Trust Foundation, centrado no desenvolvimento da GOcap®.
Atualmente, Patrícia Henriques é Investigadora Júnior no grupo de investigação do i3S «Advanced Graphene Biomaterials» e cofundadora, bem como CSO & COO, da GO Antimicrobial Technologies, Lda (GOTECH Antimicrobial) –, uma startup criada em dezembro de 2021, dedicada ao desenvolvimento de soluções antimicrobianas inovadoras para o combate às infeções associadas a dispositivos médicos.
Sobre as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência
O apoio da L´Oréal às mulheres da ciência começou formalmente em 1998, com uma parceria com a UNESCO, que deu origem ao programa L’Oréal-UNESCO For Women em Science, premiando anualmente cinco cientistas consagradas, uma de cada região do mundo. 132 grandes mulheres cientistas foram já premiadas, sete das quais receberam posteriormente um prémio Nobel.
Este programa internacional serviu de inspiração a dezenas de iniciativas locais dirigidas a jovens e mulheres investigadoras, apoiando-as a dar continuidade às suas carreiras científicas e a sensibilizar os decisores – e a sociedade em geral – para uma ciência sem barreiras de género. Foi neste âmbito que nasceram, em 2004, as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência.
A iniciativa nacional distingue, anualmente, cientistas jovens e já doutoradas, com idade até 35 anos (mais um ano por cada filho) e com projetos promissores nas áreas das Ciências, Engenharias e Tecnologias para a Saúde ou para o Ambiente.
“É com enorme satisfação que celebramos mais uma edição deste programa que, ao longo dos últimos 21 anos, tem apoiado jovens mulheres que fazem avançar a ciência em Portugal – e, por extensão, fazem avançar o mundo”, afirma Gonçalo Nascimento, country Coordinator da L’Oréal em Portugal.
“O apoio às mulheres na ciência é essencial para promover um progresso mais inclusivo e representativo, face aos desafios persistentes, como a desigualdade salarial e a sub-representação em cargos de liderança”, salienta o responsável.
Desde 2004, já foram reconhecidas mais de 70 jovens investigadoras em Portugal, incluindo 13 da Universidade do Porto: Sandra Sousa (IBMC, 2005), Maria José Oliveira (INEB, 2009), Joana Marques (FMUP, 2010), Inês Gonçalves (INEB, 2014), Joana Tavares (IBMC, 2014), Sónia Melo (Ipatimup, 2015), Maria Inês Almeida (i3S, 2017), Joana Caldeira (i3S, 2019), Ana Luísa Gonçalves (FEUP, 2020), Sandra Tavares (i3S, 2021), Andreia Pereira (i3S, 2022), Mariana Osswald (i3S, 2023) e agora Patrícia Henriques (i3S, 2024).