Chama-se EduBiota e é um programa de educação científica concebido para sensibilizar professores e alunos do ensino secundário para a importância dos microrganismos. Afinal, nem todos são vilões – há muitos que se apresentam como verdadeiros super heróis da natureza. O programa, promovido através de uma plataforma online, é da autoria de Lara Amorim, estudante do Programa Doutoral em Ensino e Divulgação das Ciências da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Integrado no seu projeto de doutoramento, o EduBiota visa destacar os inúmeros benefícios da microbiota para a saúde humana e para o ambiente. 

“Ao longo dos anos, enquanto professora, percebi que existe uma conceção muito negativa sobre  os microrganismos. São vistos como sinónimo de doenças e infeções, algo a ser combatido com antibióticos”, conta a estudante, que lecionou vários anos, no Ensino Secundário. 

Para contrariar essa visão, a investigadora quer mostrar o outro lado da microbiologia: o papel dos microrganismos na biorremediação, na fermentação, na produção de outros medicamentos, na degradação dos plásticos e até na absorção de dióxido de carbono (CO₂). “Sempre que falava nestes outros papéis essenciais e naturais dos microrganismos, os alunos ficavam surpreendidos e queriam saber mais”, recorda. E dá um exemplo: “O fitoplâncton, um conjunto de microrganismos aquáticos fotossintéticos, é responsável por cerca de metade da absorção de CO₂ da atmosfera”.

Recursos educativos gratuitos e formação prática em Microbiologia para os professores 

A plataforma EduBiota, que se baseia nos referenciais curriculares da Direção-Geral da Educação, disponibiliza recursos gratuitos para professores e alunos. Entre os conteúdos estão o podcast “Micróbio no Divã”, atividades e estratégias pedagógicas, e, brevemente, apresentará também vídeos e protocolos experimentais. 

“O EduBiota está em constante construção e precisa dos contributos dos professores para crescer e melhorar”, apela Lara Amorim. Com o apoio do Centro Ciência Viva de Vila do Conde, têm sido realizadas palestras em escolas para divulgar e incentivar o seu uso no ensino.

Para além da sensibilização, o programa aposta também na formação contínua de professores. O curso Apoio ao ensino – aprendizagem em ciências biológicas – formação prática sobre as interações hospedeiro-microrganismos” irá decorrer no início do próximo ano letivo e destina-se a docentes de Biologia do Ensino Secundário (grupo 520).

“Queremos apresentar técnicas e ferramentas inovadoras para que os professores as possam aplicar em contexto de sala de aula. É assim que motivamos os jovens a seguir carreiras científicas e a acreditar que é possível resolver desafios atuais através da ciência”. 

Um dos objetivos do EduBiota é tornar a microbiologia mais acessível. Lara propõe-se a ensinar os professores a preparar meios para cultivar microrganismos nas suas escolas, com materiais simples e acessíveis, adaptados às realidades das escolas secundárias, mesmo sem os equipamentos laboratoriais mais avançados da FCUP. 

Este projeto é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e resulta de uma colaboração entre três instituições: FCUP (iB2Lab-LAQV REQUIMTE), o Centro Ciência Viva de Vila do Conde (CCVVC) e o Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF), da Universidade de Aveiro.

O trabalho de Lara Amorim conta com a orientação das docentes da FCUP, Conceição Santos (FCUP/iB2Lab-LAQV REQUIMTE) e Raquel Ribeiro (CCVVC), e de Betina Lopes, professora e investigadora no CIDTFF, UA.

Como parte integrante do seu trabalho de investigação, Lara pretende ainda avaliar o impacto do EduBiota nos níveis de conhecimento e literacia científica sobre microbiologia dos participantes, ao longo do projeto.