A Bienal’25 Fotografia do Porto está de regresso à cidade e traz com ela duas exposições que podem ser apreciadas nos espaços da Universidade do Porto: Laços Que Unem, nas Galerias da Casa Comum (à Reitoria); e Peles de Imagem, Espelhos Luminosos, no Pavilhão de Exposições da Faculdade de Belas Artes (FBAUP).

A Bienal deste ano parte para mais um ciclo de exposições desafiando-nos a imaginar um mundo mais regenerativo e interdependente, selecionando e apresentando práticas artísticas mais colaborativas que interrogam o tempo presente e ensaiam futuros possíveis. O mote da edição de 2025 é Amanhã Hoje, propondo-nos um exercício de pensamento e ação inscritos no agora.

Passa precisamente por aí a proposta de Laços Que Unem, título da exposição inaugurada no passado 15 de maio e que traz às Galerias da Casa Comum um conjunto de trabalhos de artistas de diversas nacionalidades.

Jan Durina é um artista interdisciplinar eslovaco que recorre essencialmente a materiais reciclados para criar máscaras e disfarces delicados que, entrelaçados no suporte fotográfico criam narrativas sobre saúde mental, identidade, sexualidade e queerness.

Angyvir Padilla, natural de Caracas e sediada em Bruxelas, cruza disciplinas, incluindo escultura, performance, fotografia, vídeo e som. Inspirada pela experiência de deslocação, as suas obras vão além da criação de objetos, atravessando fronteiras entre imaginário e real, efémero e tangível. O resultado é uma experiência imersiva e corporal, que deixa o espectador suspenso numa sensação de dissonância e perplexidade perante o que é visto, tocado, ouvido e recordado.

Off the Map é o título do projeto de Sasha Chaika, artista russa,« que aborda diferentes possibilidades de comunicação. Capta imagens que desestabilizam os padrões sociais – percepcionados como “teatro social” – e propõe novas interações afetivas com diferentes elementos do meio envolvente.

Pormenor de “Off the Map”, de Sasha Chaika. (Foto: DR)

Ties That Bind é a proposta de um coletivo que explora e desafia redes de interdependências e ligações. Estruturas que nos definem e influenciam o modo como nos conectamos com o que nos rodeia. Unem e, simultaneamente, desestabilizam. São obras que navegam por estas tensões sobre pertença e conexão, revisitando relações afetivas, territoriais e tecnológicas numa procura por reconciliação com o(s) nosso(s) mundo(s) danificado(s).

Em Tales They Don’t Tell You o noroeguês Dev Dhunsi analisa a ocorrência de processos ao longo da vida e vai estabelecendo conexões entre o passado, o presente e diferentes geografias. Faz-se acompanhar de contos antigos não contados do Vedas (textos sagrados do hinduísmo) – incluindo uma estória de amor gay.

De Hong Kong chega o trabalho de Sheung YiuBetween Two Trees, There Are Many Worlds é um vídeo que desafia a percepção da paisagem. Sheung Yiu recorre a técnicas de recolha de imagem que traduzem a complexidade das redes sensoriais presentes em duas árvores – uma que sobrevive e outra infestada, sem vida – na floresta central de Helsínquia. O projeto revela formas comunicativas invisíveis ao olho humano.

“Between Two Trees, There Are Many Worlds”, de Sheung Yiu. (Foto: DR)

Por trás da cozinha do apartamento da sua mãe em Caracas, na Venezuela, encontra-se uma pequena loja de roupa. Em Behind Virgy’s Kitchen, Angyvir Padilla recupera as dicotomias entre a privacidade e o espaço público na sua série de fotogravuras de seda, penduradas por entre molduras de metal. São delicados retratos de amigos e família, parcialmente velados e fixados nessas estruturas, enunciando os ritmos e as tensões entre a domesticidade, a exposição, a intimidade e a memória.

Nascida na Alemanhã e filha de pai afegão e mãe egípcia, Donja Nasseri traz The Mummy Eye. Uma instalação que traz à luz nuances do passado colonial através da adaptação de peças históricas a novos contextos tecnológicos. Em colaboração com o Museu Rautenstrauch-Joest, em Colónia, Nasseri recorre à tecnologia 3D e à aplicação de aguarela para manipular artificialmente o objeto, desestabilizando a linha temporal entre o novo e o antigo.

Partindo de um sentimento de desconfiança sentido na pele enquanto fotografava e percorria as ruas da Bielorrússia, Ihar Hancharuk lança uma narrativa ficcionada sob o mote da espionagem. Em What If I am a Spy?, o artista recolhe objetos e imagens do quotidiano que, apropriados e reunidos num determinado contexto, traçam o paralelismo com as tensões existentes numa sociedade de políticas conturbadas, vincada pelo controlo e pela paranoia coletiva.

A exposição Laços Que Unem pode ser visitada até 28 de junho,de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 17h30. Aos sábados, as portas da Casa Comum abrem das 15h00 às 18h00. A entrada é livre.

Uma viagem pelos “tesouros” da U.Porto

Ainda no âmbito da Bienal’25 Fotografia do Porto, o Pavilhão de Exposioes da FBAUP acolhe, desde o dia 16 de maio, a exposição Peles de Imagem, Espelhos Luminosos, da artista Sofia Borges. e com curadoria de Susana Lourenço Marques.

A partir das coleções do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP) e da FBAUP, Sofia Borges desenvolve uma residência artística que coloca em potência uma seleção dos objetos de ambas as coleções.

Em colaboração com o artista Jonathan Uliel Saldanha, a artista brasileira cria uma peça sonora com trechos dos escritos do antropólogo francês Bruce Albert, a partir das gravações do xamã Yanomami Davi Kopenawa, publicadas no livro A Queda do Céu: Palavras de um xamã yanomami (2010).

A exposição culmina numa obra de arte total, em que as noções de tempo e representação são invertidas para nos devolverem a dimensão ancestral do olhar dos animais sobre os seres humanos — os humanos de hoje e os que, no primeiro tempo, foram tornados animais.

Com entrada livrePeles de Imagem, Espelhos Luminosos pode ser visitada de terça-feira a sábado, entre as 14h00 e as 18h00.

Celebrar o Amanhã Hoje na Bienal’25 Fotografia do Porto

Conetar, sustentar, vivificar e expandir são as quatro plataformas que sustentam o programa da Bienal’25 Fotografia do Porto, materializadas através de projetos expositivos, residências artísticas, investigações colaborativas e processos de mediação territorial.

Através destas plataformas, a Bienal acolhe práticas que atravessam territórios urbanos e rurais, comunidades locais e redes internacionais, promovendo modos plurais de relação entre imagem, ecologia, tecnologia, afeto e memória.

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