O projeto europeu «PREDI-LYNCH – Validação de testes não invasivos de biópsia líquida para PREDição do cancro na Síndrome de LYNCH», do qual o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) é um dos parceiros, foi recentemente financiado pelo Programa Horizon Europe da Comissão Europeia, no âmbito da Missão Cancro, com 13,6 milhões de euros.
O objetivo deste projeto – um dos dois projetos com participação nacional apoiados por esta iniciativa – é, durante os próximos seis anos, desenvolver métodos não invasivos, precisos, aceitáveis e rentáveis de deteção de cancros em fase inicial em doentes com síndrome de Lynch. Mais de 380 mil euros terão como destino o i3S.
Coordenado pelo Instituto de Investigação em Cancro do Hospital Universitário de Oslo, na Noruega, o projeto, que envolve 28 parceiros de 16 países, e cujo kick-off meeting se realiza em maio de 2025, consiste num “ensaio clínico observacional europeu inovador que visa transformar o diagnóstico pré-sintomático e a deteção precoce do cancro em indivíduos com síndrome de Lynch”.
No i3S, o projeto será coordenado por Carla Oliveira, líder do grupo «Expression Regulation in Cancer», que conta com as investigadoras Liliana Sousa e Sara Pereira na equipa.
Nova esperança para doentes com síndrome de Lynch
A síndrome de Lynch é a síndrome hereditária mais comum de predisposição para o cancro, causada por mutações germinativas nas proteínas de reparação de ADN.
Um em cada 279 recém-nascidos, explica Carla Oliveira, “é portador de uma mutação nos genes associados à síndrome de Lynch, ficando predisposto a desenvolver cancro colorretal, ginecológico, do trato urotelial e outros cancros ao longo da vida”.
Esta síndrome foi durante muito tempo sub-reconhecida e existem enormes disparidades no diagnóstico precoce e nos cuidados clínicos prestados às famílias com síndrome de Lynch nos vários países. Como consequência, muitos doentes desenvolvem cancros avançados e não tratáveis.
O projeto PREDI-LYNCH, adianta a investigadora do i3S, “propõe uma estratégia multiómica ambiciosa, pan-europeia, para desenvolver métodos não invasivos, precisos, aceitáveis e rentáveis de deteção de tumores pré-cancerosos e em fase inicial em doentes com síndrome de Lynch”.
Ao utilizar tecnologias de ponta de biópsia líquida, alimentadas por inteligência artificial, o consórcio, constituído por investigadores de renome, profissionais de saúde, empresas de biotecnologia e associações de doentes – nomeadamente as portuguesas EVITA e Europacolon -, irá avaliar a capacidade destas ferramentas para o diagnóstico precoce dos três cancros mais comuns relacionados com a síndrome de Lynch, assegurando que os resultados são aplicáveis em diversos sistemas de saúde.
“Uma oportunidade única” para o i3S
Enquanto “maior instituto Português de saúde e ciências da vida”, o i3S desempenha “um papel central neste esforço internacional», assume Carla Oliveira. “A nossa equipa lidera uma tarefa crítica do projeto, centrada na identificação dos fatores-chave que influenciam a implementação de métodos de diagnóstico não invasivos em comparação com os diagnósticos tradicionais para a prevenção do cancro. Exemplos destes fatores são a segurança e a eficácia dos métodos de diagnóstico não-invasivo e a aceitação por parte de hospitais, profissionais de saúde e doentes”.
Para além de criar fóruns de discussão entre as partes interessadas envolvidas nos cuidados prestados aos doentes com síndrome de Lynch, e de acolher eventos importantes para a exploração industrial, o i3S irá “realizar inquéritos internacionais e grupos de discussão com doentes com síndrome de Lynch, profissionais de saúde e gestores de saúde de 29 centros clínicos de 12 países europeus, para identificar as principais barreiras e facilitadores da adoção de métodos de diagnóstico não-invasivos nesta doença”.
Na sequência da coordenação do projeto europeu «PREVENTABLE», Carla Oliveira considera que o convite para participar no projeto PREDI-LYNCH “reflete uma maior visibilidade e reconhecimento internacional da investigação aplicada ao cancro desenvolvida pela minha equipa”.
Trata-se, acrescenta a investigadora, de “uma oportunidade única para expandir a nossa rede de colaboração e os nossos conhecimentos especializados com o intuito de melhorar os cuidados prestados aos doentes que sofrem de síndromes de cancro hereditário”.