Ana Luísa Fernandes, estudante do 2.º ano do Mestrado em Linguística da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), é a vencedora do Prémio CAIDI 2025, destinado ao autor da melhor comunicação oral apresentada no XIX Fórum de Partilha Linguística, organizado, no passado mês de abril, pelo Núcleo de Jovens Investigadores do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa.
A comunicação premiada, intitulada “Perspetivas sobre a Estrutura Temporal de Narrativas Clínicas em Português Europeu”, insere-se na fase inicial da tese de mestrado da estudante da FLUP, centrada na “organização temporal de relatórios clínicos de doentes com Leucemia Mieloide Aguda, do IPO-Porto”.
Neste trabalho “pioneiro na anotação linguística e clínica em português europeu”, Ana Luísa Fernandes propõe-se a analisar a estrutura temporal das narrativas clínicas presentes em relatórios médicos redigidos em Português Europeu, utilizando para o efeito um “corpus constituído por relatórios de doentes diagnosticados com Leucemia Mieloide Aguda e acompanhados no IPO-Porto”.
Integrado no projeto aMILE: Aplicação de Ferramentas de Texto Mining no Estudo de Doentes com Leucemia Mieloide Aguda, resultado de uma parceria entre o INESC TEC, a FLUP e o IPO-Porto, o estudo procura dar resposta a “um desafio real: uma parte significativa da informação clínica nos registos de saúde eletrónicos encontra-se em formato narrativo e não estruturado, o que dificulta a sua reutilização em contextos clínicos e científicos”, explica Ana Luísa Fernandes.
“A anotação semântica — e, em particular, a anotação temporal — surge, assim, como uma etapa essencial para tornar estes dados mais acessíveis às técnicas de processamento de linguagem natural. Esta abordagem é especialmente relevante em casos clínicos complexos e em doenças de prognóstico reservado”, acrescenta a estudante, que está a desenvolver o trabalho sob a orientação da docente Purificação Silvano.
Um reconhecimento para a Linguística
Para Ana Luísa Fernandes, a conquista do Prémio CAIDI 2025 representa “um reconhecimento do valor científico e interdisciplinar desta investigação, que cruza Linguística, Ciência de Computadores e Ciências da Saúde”. Por outro lado, “vem reforçar a convicção de que a Linguística tem um papel fundamental a desempenhar fora dos seus domínios tradicionais”.
“A análise e a anotação semântica, neste caso aplicadas a textos clínicos, revelam-se essenciais para resolver problemas concretos noutras áreas do saber, demonstrando que o contributo da Linguística pode ser determinante para avanços científicos e tecnológicos em contextos altamente especializados”, exemplifica.
A título mais pessoal, a estudante – que é também licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas (Português e Inglês) pela FLUP e mestre em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP) – encara o prémio como “um incentivo para continuar a investir numa carreira como investigadora, unindo duas áreas que me são particularmente próximas: a Linguística e as Ciências da Saúde”.
Membro do Centro de Linguística da Universidade do Porto (CLUP), do NLP&IR Research Group e do Laboratório de Inteligência Artificial (LIAAD) do INESC TEC, Ana Luísa Fernandes é bolseira de investigação no projeto CitiLink (https://citilink.inesctec.pt/), financiado pela FCT. Em paralelo, tem vindo a colaborar em “vários projetos interdisciplinares que cruzam linguística teórica — em particular, a Semântica —, linguística computacional e inteligência artificial”.
A frequentar o segundo ano do Mestrado em Linguística, já está inscrita no Doutoramento em Ciências da Linguagem, também da FLUP, onde pretende “desenvolver uma investigação centrada na caracterização semântica das relações discursivas em narrativas clínicas, combinando uma abordagem teórica e computacional”.