É o primeiro evento paralelo à exposição Uma viagem pelo asfalto. O rock no Porto nos anos oitenta e, como faria todo o sentido, o desafio é feito através da música. Os icónicos Hospital Psiquiátrico vão estar ao vivo na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto. Vai ser no próximo dia 17 de maio, sábado, às 22h00.
É provável que consiga reconhecer alguns dos instrumentos que vai encontrar em palco, sendo que há também novas aquisições. Introduziram a sarronca (um membranofone), uma noise box (caixa de música, feita em madeira, e que dá à manivela) com molas, uma escova de arame, dois xilofones improvisados e uma campainha de bicicleta aberta ao meio. Mantiveram a guitarra, o baixo, os objetos metálicos, a bateria, samplers, pedais, computadores e algumas máquinas industriais.
É este o contexto em que a música assume um papel de estímulo à reflexão e ao pensamento crítico. À crueza metálica das performances faz-se corresponder uma intensidade cutânea e emocional. Com os mesmo ideais de liberdade criativa e após uma pausa de 25 anos, eis que os Hospital Psiquiátrico estão de volta aos palcos!
Dos anos 1980 chegam-nos fotografias de cenários com cabos de eletricidade, molas de arame, máquinas de lavar (talvez roupa) esventradas, tambores esféricos e ferramentas elétricas, tudo passível de conversão sonora. “Moldado por máquinas”, “agonia industrial”, “acorda neste inferno obsceno” e “o meu ego está em chamas a cidade levou-me” são alguns dos temas de 2º Electrochoque, álbum de 1989, lançado dois anos após o surgimento desta banda pioneira da música industrial portuguesa.

Os Hospital Psiquiátrico vão atuar na Casa Comum após uma pausa de 25 anos. (Foto: DR)
Poderia ter ser sido para cortar mármore ou cerâmica, mas neste caso serviu para operar um bidão metálico, semelhante a tantos que nos habituamos a ver abandonados em terrenos em fase de construção. Foi de rebarbadora elétrica em riste que subiram ao palco do Teatro Sá da Bandeira, em 2000, para o último concerto desta primeira fase de vida da banda, no âmbito do Festival Hall of Dreams.
As fotografias e os vídeos dos concertos ao vivo podem ser vistos, sem pressas, no website d’ O Rock no Porto nos Anos 80. Uma viagem pelo asfalto, lançado aquando da inauguração da exposição homónima, na Casa Comum.
Das fábricas, das ruas, das obras e da cidade em permanente edificação, obedecendo a lógicas puramente comerciais, diretamente para o som do palco, a música dos Hospital Psiquiátrico a escancarar-nos o quotidiano em que se tornou a vida urbana.
25 anos depois…
Questões que se que se foram agravando, ao longo dos anos, fazendo agora levantar outros problemas como o da “gentrificação”, que “afasta os habitantes das cidades”, ou o da “urgência da preservação ambiental”. É tempo de “acordar e pensar no que queremos como sociedade. Qual o nosso objetivo como civilização: a preservação ou a destruição?” lança Paulo Afonso, vocalista da banda.
Um quarto de século depois, em tempos “perturbadores”, em que as notícias falsas circulam como se de verdade se tratasse, “de manipulação da informação”, há outras mensagens que importa sublinhar, como a necessidade de “viver sem regimes opressores. Sermos (efetivamente) democratas!” Daí que, remata o artista, manter o nome da banda faça “todo o sentido!”
Em busca de novas perspetivas e mantendo o compromisso com a criatividade, a inovação e a expressão artística a banda tem dado continuidade à exploração de novas fronteiras. Assumindo um caminho de interseção de diferentes formas de arte, os Hospital Psiquiátrico prometem uma fusão das artes plásticas e das artes performativas com a música experimental, música avant-garde e a música industrial, em nome de uma experiência mais imersiva. No contexto das apresentações ao vivo, a banda integra ainda elementos visuais que complementam a experiência sonora, criando um ambiente multissensorial.
Uma exploração dos limites da música e da arte, procurando visões alternativas e desafiando convenções que, no fundo, sempre esteve presente desde os primórdios da banda, agora constituída por Paulo Noia (voz, guitarrae programação), Billy (samplers, guitarra baixo e percussão metálica), Guilhas (objetos metálicos, sarronca, galinha xoca, noise box e Voz), Jorge Belas (objetos metálicos e máquinas industriais), Olly (bateria) e Chiocca (guitarra baixo).
A galinha xoca… O que será? É vir cá para ver e ouvir. Dia 17 de maio, às 22h00, na Casa Comum.
A entrada é livre, ainda que limitada à lotação da sala.
Uma viagem no tempo
Inaugurada no passado dia 8 de abril, a exposição Uma viagem pelo asfalto. O rock no Porto nos anos oitenta propõe-se a traçar um itinerário do rock português dos anos oitenta através da reunião objetos, fotografias, cartazes, recortes de jornais e capas de vinis de bandas como os GNR, os Taxi e os Trabalhadores do Comércio.
Com entrada gratuita, a exposição pode ser visitada até 20 de setembro de 2025, de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 13h00, e das 14h00 às 17h30. Aos sábados, as portas da Casa Comum abrem das 15h00 às 18h00.
No website d’O Rock no Porto nos Anos 80, é também possível encontrar álbuns de bandas como Os Entes Queridos, Repórter Estrábico ou Bramassaji, assim como telediscos, testemunhos, vídeos e mais fotografias.