Depois de ter conquistado um prémio de jornalismo na 26.ª edição do European Newspaper Award — Newspaper Design & Concept, a reportagem «Adeus, meu estômago», da autoria da jornalista Teresa Firmino (reportagem), Joana Gonçalves (filmagem e edição) e Gabriela Pedro (ilustração/animação), foi recentemente distinguida com o «Prémio June L. Biedler de Jornalismo sobre Cancro», atribuído pela Associação Americana de Investigação do Cancro (AACR). Este trabalho multimédia foi parcialmente filmado no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e partiu do trabalho de investigação desenvolvido pela cientista Carla Oliveira sobre o cancro gástrico difuso hereditário.

Publicada a 19 de julho de 2024, esta reportagem, em formato documentário, foi uma das distinguidas na edição deste ano do prémio da AACR, na categoria “Online e Multimédia”. As autoras foram reconhecidas numa cerimónia pública em Chicago a 27 de abril, na abertura da Conferência Anual desta associação​.

A reportagem do Público, que foi também transmitida pela RTP3 em agosto de 2024, narra a história de uma família à procura de respostas depois do diagnóstico e da morte de um jovem de 19 anos com cancro gástrico difuso hereditário. A história da família e do peso de uma mutação genética no risco de vir a ter este tumor maligno é acompanhada pelo trabalho de investigação científica e pela perspetiva de cientistas e médicos do i3S, nomeadamente a patologista Fátima Carneiro, o geneticista Sérgio Castedo e a investigadora Carla Oliveira.

“Desde meados da década de 1990 que as bases genéticas de uma síndrome rara estão a ser investigadas e os cientistas e médicos portugueses do i3S têm contribuído para esses avanços. Um exemplo inspirador de como a curiosidade e o empenho dos cientistas, que começam na bancada do laboratório, podem salvar muitas vidas”, escreveu Teresa Firmino no texto de apresentação da reportagem.

Receber este prémio, destaca a jornalista, “representa uma grande honra com triplo significado: é um reconhecimento internacional do jornalismo de ciência que se faz em Portugal, nomeadamente no jornal Público; é um reconhecimento da ciência de topo que se faz no país; e é uma homenagem a todos os pacientes de cancro gástrico difuso hereditário, em particular à família do Norte que nos contou a sua história de grande coragem e humanidade”.

Os cerca de 30 elementos do júri deste prémio, presidido pelo jornalista Clifton Leaf, professor na Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia, avaliaram precisamente essas três componentes: cerca de um terço dos jurados eram jornalistas, outro terço, investigadores, e o restante terço composto por doentes oncológicos e associações de doentes.

“Em nome de todos as minhas colegas que trabalharam nesta reportagem em vídeo, agradeço este prémio à Associação Americana de Investigação do Cancro. Agradeço também a todos os cientistas e médicos do i3S, neste caso a Carla Oliveira, a Fátima Carneiro e o Sérgio Castedo, pela forma como nos receberam e souberam comunicar a ciência, de forma tão clara e apaixonada, a quem não é cientista. E, claro, deixo uma palavra muito especial à família de Ana, Isaura e Jorge por toda a sua generosidade ao mostrarem-nos que, mesmo na tragédia, há esperança. E que essa esperança vem das soluções, ainda que drásticas, como podemos descobrir no vídeo, encontradas pela ciência”, refere Teresa Firmino.

Ainda segundo a jornalista, “as soluções que os cientistas descobriram para este cancro foram aplicadas, no caso desta família e de outras do Norte, num hospital público – o Hospital de São João no Porto – e parece-me importante dizer que o Serviço Nacional de Saúde é realmente uma preciosidade que temos em Portugal e que devemos preservar”.

Para a investigadora Carla Oliveira, ter participado “nesta peça da Teresa, da Joana e da Gabriela foi muito recompensador”. Para um cientista, explica, “a recompensa do trabalho feito no laboratório leva muito tempo, às vezes nem chegamos a ver a aplicação do produto do nosso trabalho. Mas no caso desta história conseguimos um pouco de tudo: Diagnosticar a família, encontrar forma de prevenir a doença nas pessoas em risco e, mais importante, conhecer estas pessoas e perceber que o nosso trabalho ajuda a combater as suas ansiedades. Estou muito agradecida às premiadas por levarem o nosso trabalho e esta história fantástica mais além”.

Sobre o Prémio June L. Biedler de Jornalismo sobre Cancro

Este prémio homenageia June L. Biedler, cientista norte-americana que descobriu proteínas responsáveis pela resistência das células cancerosas à quimioterapia e estudou os mecanismos presentes no desenvolvimento do neuroblastoma (um dos principais cancros no tecido nervoso).

June L. Biedler morreu em 2012, depois de décadas como membro da Associação Americana de Investigação do Cancro, onde também contribuiu para a comunicação com o público sobre a doença oncológica e a investigação em cancro. Depois da sua morte, em 2014 parte do seu espólio foi doado à instituição.

Em 2015, a Associação Americana de Investigação do Cancro criou este prémio de jornalismo que já distinguiu mais de 50 jornalistas em todo o mundo – incluindo agora de Portugal.