Durante os próximos dois anos, os investigadores Daniel Carneiro e Vanessa Rodrigues vão integrar e desenvolver os seus projetos de investigação no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) ao abrigo das prestigiadas Bolsas Marie Skłodowska-Curie de pós-doutoramento, atribuídas pela União Europeia. O financiamento é de cerca de 207 mil euros para cada investigador.

Estas bolsas são altamente competitivas (apenas 1700 propostas foram selecionadas para financiamento em toda a União Europeia, num total de mais de dez mil submissões) e têm como objetivo apoiar o potencial criativo e inovador dos investigadores pós-doutorados que apresentem projetos de investigação de excelência e de alto impacto e que desejem adquirir novas competências através de formação avançada, mobilidade internacional, interdisciplinar e inter-setorial. Na decisão final pesam também critérios como a qualidade do supervisor científico e da instituição de acolhimento do investigador.

Na edição 2024/2025, as Bolsas Marie Skłodowska-Curie registaram um número recorde de candidaturas: 10.360, das quais 285 provenientes de Portugal. Destas quase três centenas de candidaturas nacionais, 40 foram selecionadas, sendo que 15 delas foram financiadas no âmbito do programa e 25 outras foram contempladas através do programa ERA Fellowships, como é o caso da investigadora Vanessa Rodrigues.

Inspiradas no nome da cientista franco-polaca galardoada com dois Prémios Nobel e reputada pelo seu trabalho no domínio da radioatividade, estas bolsas financiam a investigação e inovação de excelência e apoiam os investigadores, em todas as fases da sua carreira, com novos conhecimentos e competências, através da mobilidade entre países e continentes e da exposição a diferentes setores e disciplinas. Têm como objetivo apoiar o potencial criativo e inovador dos investigadores doutorados que apresentem projetos de investigação de excelência e de alto impacto e que pretendam adquirir novas competências através de formação avançada, mobilidade internacional, interdisciplinar e intersetorial.

Desvendar os mecanismos moleculares que conferem tolerância à falta de oxigénio

Denominado «URC-Hypoxia – Unlocking the Redox Code: Mapping the Molecular Mechanisms of Hypoxia Tolerance», o projeto liderado por Daniel Carneiro, investigador doutorado em Ciências Biológicas – Bioquímica e Biologia Molecular pela Universidade de Brasília (UnB), vai ser desenvolvido no grupo de investigação «Glial Cell Biology», sob supervisão do líder do grupo, João B. Relvas.

«Conheci o professor João Relvas em 2018, no âmbito de uma colaboração entre o grupo dele e o grupo do professor José Roberto Leite, da Faculdade de Medicina da UnB, onde faço investigação desde 2016. Desde então, temos colaborado em vários projetos e, em 2023, estive no i3S durante seis meses, para executar parte de um projeto que lidero no Brasil», explica Daniel Carneiro.

Ter escolhido este grupo para desenvolver o projeto agora premiado com uma bolsa Marie Skłodowska-Curie, acrescenta, deve-se «à ampla experiência do investigador João Relvas em sinalização celular, especialmente em mecanismos redox relacionados com a neuroinflamação e neurodegeneração, além do domínio em metodologias cruciais ao projeto, como proteómica e microscopia avançada».

Esta sinergia de expertises, sublinha Daniel Carneiro, «será essencial para o desenvolvimento do meu projeto, que consiste em desvendar os mecanismos moleculares que conferem tolerância à hipóxia em animais naturalmente resistentes à falta de oxigênio».

Nova estratégia terapêutica para travar a metastização do melanoma

Engenheira de formação, com um doutoramento em Genética Molecular e Patologia (ICBAS e FMUP) e investigação desenvolvida no Ipatimup, Vanessa Rodrigues prosseguiu a sua carreira de investigadora na Universidade Nacional de Singapura, nas áreas do cancro e das doenças neurodegenerativas. Após seis anos como líder de um projeto de investigação na Ásia, regressou ao Porto e ao i3S (de que o Ipatimup faz parte) para abraçar um novo desafio e abrir novas possibilidades de colaboração entre a Ásia e Portugal.

Vanessa Rodrigues explica que escolheu o grupo do i3S «Molecular Biomaterials», liderado pela investigadora Helena Azevedo, devido à sua «vasta experiência em várias técnicas abordadas no meu projeto, incluindo engenharia de biomateriais, biotecnologia e química sintética. A Dra. Helena possui uma extensa rede de colaboradores que trabalham em phage display (Portugal, Reino Unido) e terapêutica com péptidos (EUA) que me podem proporcionar excelentes oportunidades de colaboração».

O projeto liderado por Vanessa Rodrigues tem como objetivo identificar péptidos que atuem em células de melanoma, a forma mais mortal de cancro da pele, e também em vesículas extracelulares, pequenas partículas libertadas pelas células e que são usadas como forma de comunicação entre células. Esta nova estratégia terapêutica, sublinha a investigadora, «visa travar a formação de metástases, uma das principais causas de morte do melanoma invasivo».

Os resultados desta bolsa, esclarece Vanessa Rodrigues, «beneficiarão várias comunidades científicas, incluindo as que trabalham no domínio dos biomateriais e das ciências dos péptidos e do cancro». Ao abordar tanto as células do melanoma como as vesículas extracelulares, «este projeto introduz uma estratégia de duplo alvo com o potencial de transformar a compreensão da biologia do melanoma e abrir novas vias para terapias mais eficazes», acrescenta.