São dois dias na companhia do universo de Agustina Bessa-Luís, declinado para o cinema. O evento, que decorre a 3 e 4 de abril, na Casa Comum, ao edifício da Reitoria da Universidade do Porto, contará com a exibição de filmes, seguidos de debates com especialistas.

Este ciclo dedicado ao cinema e à literatura arranca no dia 3 de abril, às 18h30, com Estações da Vida, Vento da Desordem, filme dirigido por Tomás Baltazar em 2018. Ficamos a conhecer Samuel, um jovem jornalista alemão, que decide visitar Alma Bentes, uma escritora portuguesa de renome. À medida que a conversa entre os dois se desenvolve, Samuel embarca também numa jornada pessoal, captando imagens das estações ferroviárias portuguesas e refletindo sobre a relação entre memória, tempo e identidade. O realizador Tomás Baltazar estará presente para comentar a obra.

Em seguida, será apresentado Fanny e a Melancolia, de Adriano Nazareth Jr., também de 2018. O documentário transporta o espetador para o Porto e para a região do Douro no século XIX, onde se desenrola a intensa e trágica história de Fanny Owen. Esta mulher delicada e enigmática foi protagonista de um dos mais complexos triângulos amorosos da literatura portuguesa, envolvendo Camilo Castelo Branco e José Augusto Pinto de Magalhães.

A narrativa é conduzida pelas reflexões de Agustina Bessa-Luís, que, através da sua escrita, dá novas dimensões à figura de Fanny, interpretando-a à luz da sociedade e dos valores da época. A adaptação cinematográfica de Manoel de Oliveira, Francisca, também bebe da mesma fonte. A sessão contará com comentários da escritora Minês Castanheira, que analisará a abordagem literária e cinematográfica da história.

No dia 4 de abril, às 21h30, será exibido Ema e o Prato de Figos, também de Adriano Nazareth Jr. O filme estabelece um jogo entre realidade e ficção, cruzando três personagens femininas ligadas ao universo de Agustina: a Ema de Flaubert, a Ema Paiva de Vale Abraão e Claudine, uma mulher que habitava o imaginário da escritora e serviu de inspiração para a sua obra.

Esta incursão por universos femininos trará à tona uma reflexão sobre o papel das mulheres na literatura e na sociedade. A análise dos percursos destas personagens revela diferentes facetas da condição feminina e dos arquétipos que marcaram a escrita de Agustina. Ana Paula Coutinho, docente da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), comentará o filme, aprofundando as referências literárias e simbólicas presentes na obra.

O filme As Sibilas do Passo será exibido dia 4 de abril na Casa Comum.

A última sessão da noite traz As Sibilas do Passo, também de Adriano Nazareth Jr. Será a partir da infância que o realizador explora as raízes da escrita de Agustina Bessa-Luís. Através de imagens da casa onde nasceu, em Vila Meã, o filme percorre as memórias da autora e as influências que a moldaram, revelando como a paisagem, a cultura e a oralidade da região marcaram a forma de contar histórias. O documentário aborda ainda o destino desta casa, questionando o modo como o património e a memória literária são preservados.

O jornalista Carlos Magno comentará a sessão, refletindo sobre o impacto da obra de Agustina na literatura e na identidade portuguesa.

Todas as sessões têm entrada livre. Através da linguagem cinematográfica, este é então um convite para revisitar os temas e as atmosferas que tornaram Agustina Bessa-Luís numa das figuras mais marcantes da literatura portuguesa contemporânea. Uma oportunidade única para aprofundar o conhecimento sobre as personagens e os cenários que marcaram a obra da escritora e Doutora Honoris Causa da U.Porto.

Sobre Agustina Bessa-Luís

Nascida em Vila Meã a 15 de outubro de 1922, Agustina Bessa-Luís foi pela primeira vez publicada em 1948, iniciando então uma carreira literária que foi desde cedo reconhecida pelos seus pares e que culminou na obtenção de diversos prémios literários. Venceu, entre outros, o Prémio Eça de Queirós (1954), o Prémio Nacional de Novelística (1967), o Prémio D. Diniz (1981), o Grande Prémio Romance e Novela (1983 e 2001) e o Prémio Camões (2004).

Aclamada como uma das maiores escritoras nacionais, autora de romances seminais como A Sibila ou Vale Abraão, foi também homenageada pela República Portuguesa com a atribuição da Ordem de Santiago da Espada (1980) e pelo governo francês com o título de Officier de l’Ordre des Arts e des Lettres (1989).

Para sempre ligada ao Porto e ao Douro, quer na sua obra como na sua vida pessoal, Agustina Bessa-Luís foi distinguida pela Universidade do Porto com o título de Doutora Honoris Causa a 22 de março de 2005, numa homenagem repartida com o poeta Eugénio de Andrade.

Agustina à Boca de Cena é o nome dado a um conjunto de podcasts que a Casa Comum dedica à celebre escritora portuguesa.