A interseção entre o imaginar cinematográfico e as circunstâncias reais de Lisboa entre as décadas de 1950 e 1980 é o tema central do dinâmico projeto da investigadora Joana Isabel Duarte, recentemente distinguido com uma bolsa de pós-doutoramento ao abrigo do programa Marie Skłodowska-Curie Actions (MSCA).
Doutorada em Estudos do Património pela Universidade do Porto e em Território, Património e Cultura pela Universitat de Lleida, Joana Isabel Duarte irá desenvolver a investigação “CINETOPOS – Cinefilia, Espaços Urbanos e Memórias Afetivas: Mapeando Lugares Cinefílicos em Lisboa nas décadas de 1950 a 1980” através do Departamento de Estudos Fílmicos do King’s College London, no âmbito da obrigatoriedade de internacionalização imposta pelo programa MSCA.
No decorrer desta investigação ,que ambiciona a criação de um paradigma distinto no cruzamento do Património Material e Imaterial, a investigadora irá manter, igualmente, a sua ligação ao Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (CITCEM) da FLUP, do qual faz parte desde 2018 e sob cuja afiliação assinou grande parte da sua produção científica.
O financiamento europeu permitirá um estudo aprofundado das ligações entre cinefilia e topofilia, ou seja, a relação emocional dos indivíduos com determinados espaços ligados ao cinema, nomeadamente cinemas, cineclubes, videoclubes e cafés, entre as décadas de 1950 e 1980 na cidade de Lisboa.
“Valida a qualidade da investigação”
Joana Isabel Duarte reflete sobre a importância desta conquista na sua trajetória enquanto investigadora no campo das Ciências Sociais e Humanas:
Venho de uma área com oportunidades de trabalho limitadas, e por isso investi no desenvolvimento das minhas competências de investigadora para alcançar projeção internacional. Ter conseguido um dos pós-doutoramentos mais prestigiantes que existem apenas um ano após concluir o meu doutoramento, e num momento de grande incerteza profissional, é para mim um motivo de enorme orgulho. Acima de tudo, este reconhecimento internacional valida a qualidade da investigação que tenho desenvolvido e a relevância das minhas áreas de estudo.
Com recurso às Humanidades Digitais, o estudo da investigadora irá criar uma cartografia dos lugares cinéfilos lisboetas, analisando de que forma fatores como classe social, género e contexto político influenciaram diferentes formas de cinefilia.
Demonstrarei como a estratificação social influenciava a experiência cinematográfica e como certas zonas foram gentrificadas e certos espaços substituídos por cadeias de lojas milionárias, levando assim à perda de autenticidade. No limite, este projeto não se circunscreve à cinefilia, mas reflete criticamente sobre urbanismo e identidade local. (…) Gostaria de estender este estudo a outras cidades portuguesas: o Porto tem uma forte tradição cinéfila na primeira metade do século XX que também merece ser mais conhecida e valorizada, e as cidades fora dos grandes centros urbanos também manifestam uma práticas cinéfilas únicas ao longo de várias gerações, muitas vezes completamente desconhecidas”, detalha Joana Isabel Duarte.
Além da produção académica, estão previstas iniciativas de extensão cultural com cariz nacional e internacional, como eventos intergeracionais e atividades de envolvimento da comunidade portuguesa residente em Londres e em outras regiões de Inglaterra. Através de exibições de filmes portugueses que retratam Lisboa e outras cidades do país, seguidas de debates e sessões de perguntas e respostas, a investigadora ambiciona estreitar laços entre a investigação académica e a experiência da imigração portuguesa.
A bolsa atribuída ao trabalho de Joana Isabel Duarte representa mais um reconhecimento da inovação da FLUP na criação de conhecimento científico e reforça o compromisso da faculdade com a investigação de excelência, promovendo o estudo e a valorização do património cultural e das memórias coletivas.