Desenvolver uma missão espacial em cinco dias? Sim, é possível. Entre centenas de candidatos de países europeus, Rodrigo Soares e Mariana Dias, estudantes do Mestrado em Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), foram selecionados para participar num workshop nas instalações da Agência Espacial Europeia (ESA), na Bélgica, que decorreu no início do mês de março.
Ao longo de cinco dias, Rodrigo e Mariana desenvolveram, desde a conceção inicial, uma missão espacial para um nanossatélite CubeSat, aplicando a metodologia de Engenharia Concorrente.
“Esta metodologia promove um ambiente de trabalho colaborativo, cooperativo e simultâneo, otimizando significativamente o processo de tomada de decisão e o desenvolvimento integrado entre todos os subsistemas envolvidos”, explicam os estudantes que viajaram até à Bélgica em representação da Porto Space Team, um grupo de estudantes da FEUP que atua na área da Engenharia Aeroespacial.
A missão proposta para o CubeSat 6U – um nanossatélite que utiliza um tamanho e formato padrão específicos e que, pela sua simplicidade, baixo custo e padronização, representa uma plataforma económica para uma vasta gama de aplicações – consistiu em orbitar um sistema binário de asteroides com o objetivo de estudar detalhadamente as suas propriedades físicas durante três meses, recorrendo a diversos equipamentos científicos a bordo do satélite.
Com o apoio diário de engenheiros da ESA, os participantes aprofundaram os desafios associados ao desenvolvimento de satélites e exploraram estratégias para superar as dificuldades inerentes a este tipo de projetos.
“Experiência ampliou os nossos horizontes”
Os estudantes foram divididos pelas diferentes equipas de subsistemas de forma a desenvolverem o protótipo e, simultaneamente, planearem a missão e definirem os diferentes modos de operação.
“Fiz parte da equipa de Configuração, responsável pelo posicionamento físico e geométrico de todos os subsistemas dentro da estrutura do CubeSat, garantindo uma distribuição eficiente dos componentes essenciais. Este processo exigiu uma análise detalhada das restrições de cada subsistema, assegurando a compatibilidade entre os elementos e o cumprimento dos requisitos da missão”, avança o estudante da FEUP Rodrigo Soares.
Já Mariana Dias, integrada na equipa de Controlo Térmico, teve como principal desafio assegurar que todos os componentes do nanossatélite permanecessem dentro dos limites térmicos seguros, independentemente das condições extremas enfrentadas no espaço.
“Esta experiência ampliou os nossos horizontes em termos técnicos, permitindo absorver todas as vantagens desta abordagem multidisciplinar e percecionando os desafios reais associados. Daqui, destaco a importância da comunicação constante, a flexibilidade e a cooperação próxima entre todos os subsistemas para responder rapidamente aos contratempos e garantir o sucesso global da missão”, conclui a estudante.

O workshop decorreu nas instalações da Agência Espacial Europeia (ESA), na Bélgica. (Foto: DR)
Em direção ao espaço
A participação neste workshop adquire uma nova dimensão – espacial, até – quando os estudantes destacam a mais-valia dos conhecimentos adquiridos para impulsionar o progresso do Projeto ICARUS.
Trata-se do mais recente projeto da equipa Porto Space Team, sediada na Faculdade de Engenharia, e prevê o desenvolvimento de um CubeSat 1U (10x10x10cm) a ser apresentado na competição ‘CubeSat Portugal’ organizada pela
“Como missão científica principal para o Projeto ICARUS, o nanossatélite CubeSat terá a bordo uma sonda de Langmuir para realizar medições detalhadas dos diversos parâmetros do plasma ionosférico, a cerca de 500 km de altitude”, descreve João Silva, presidente da Porto Space Team.
Através do desenvolvimento deste protótipo, os membros da Porto Space Team terão oportunidade de “desenvolver, não só capacidades técnicas, mas também soft skills”, sustentando-se precisamente na metodologia de Engenharia Concorrente utilizada no workshop da Agência Espacial Europeia.
Próximos passos? “Queremos avançar para a fase de produção, ganhar a competição ‘CubeSat Portugal’ e ver o nosso satélite a ser lançado”, projeta o estudante da FEUP.