A epilepsia refratária é uma condição que afeta 30 a 35% dos doentes com epilepsia, caracterizada por crises epiléticas persistentes e resistentes aos fármacos antiepiléticos. O mais recente estudo da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica (UMIB), do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, procura antecipar o diagnóstico desta forma de epilepsia.
Este trabalho, publicado na prestigiada revista científica Frontiers in Molecular Neuroscience com o título “Circulating miR-134 in mesial temporal lobe epilepsy: implications in hippocampal sclerosis development and drug resistance”, debruça-se sobre o estudo do biomarcador miR-134 que, expresso maioritariamente pelos neurónios, pode ajudar ao diagnóstico precoce da epilepsia refratária.
“Na nossa amostra, percebemos, através de análise bioquímica, que o biomarcador miR-134 estava aumentado nos doentes que apresentavam uma forma mais severa de epilepsia – a epilepsia refratária. Um dado que constitui uma pista importante sobre algumas vias sinalizadoras alteradas, dando-nos a indicação, mais cedo, sobre se o doente é refratário”, explica Bárbara Leal, investigadora no ICBAS e primeira autora do artigo.
O diagnóstico deste tipo de epilepsia é um processo “lento e stressante”, com impactos negativos no doente, como esclarece a investigadora: “o processo de diagnóstico da epilepsia refratária é longo, pode demorar mais de dois anos, e implica a troca constante de fármacos. Com o nosso trabalho conseguimos provar que, através de uma análise ao sangue, podemos chegar mais rapidamente ao diagnóstico”.
A UMIB estuda a epilepsia há mais de 20 anos, sempre na procura de biomarcadores “que nos permitam acelerar o processo de diagnóstico, mas também desenvolver fármacos mais eficazes”.
Esse é precisamente o caminho futuro: “os próximos passos serão sobre como podemos atuar sobre o microRNA para controlar as crises”, esclarece Bárbara Leal.
Neste estudo foram avaliados os níveis de miR-134 em 131 doentes com epilepsia (75 mulheres, 56 homens, dos quais 72 com epilepsia refratária) e 42 indivíduos saudáveis (25 mulheres, 17 homens).