Foi muito mais do que uma conversa de café. Foi um encontro de velhos amigos, uma viagem ao passado por entre as memórias e o burburinho de um espaço que foi sobrevivendo às marcas do tempo, muito pelo fulgor do espírito académico. A primeira Tertúlia Piolho, organizada pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), arrancou ao som do Grupo de Fados e Guitarradas de Biomédicas e juntou à mesma mesa o sociólogo e professor da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), Virgílio Borges Pereira, o historiador João Moreira, o médico, antigo estudante e docente do ICBAS, Luís Andrés Alves, e o diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário de Santo António, docente e antigo estudante da escola, José Barros, para uma conversa sobre “As primeiras décadas do ICBAS e a vida social pós 25 de abril”. O evento foi o primeiro de um vasto programa de comemorações que, ao longo do ano, irão assinalar os 50 anos da instituição.
Moderada por Bárbara do Carmo Silva, do Gabinete de Comunicação e Imagem do ICBAS, a conversa relembrou o papel social, político e associativo dos cafés da cidade, e do “Piolho” em particular. Espaços onde “era permitido estudar”, conforme relembrou José Barros, mas onde “pouco ou nada se estudava” porque, nessa época, as mesas de café serviam para muito mais.
“Os cafés foram parte da alegria coletiva da revolução, depois de um grande período de recessão”, defendeu o sociólogo Virgílio Borges Pereira, destacando a importância dos estudantes no processo de “aceleração política”.
O papel dos cafés da cidade enquanto espaços de reunião de estudantes, por falta de espaços próprios nas suas faculdades, foi destacado pelo historiador João Moreira, autor do livro “O Movimento Estudantil no Porto antes e depois do 25 de Abril”.
Luís Andrés Alves, que ainda preserva na sua coleção particular uma cadeira do mobiliário original do Café “Piolho”, relembrou por sua vez o espaço enquanto “ponto de encontro, local de convívio e de fortalecimento de relações” que ainda hoje se confunde com a sua vida pessoal e profissional.
As portas do “Piolho” voltam a abrir-se nos próximos dias 18 e 25 de março para as tertúlias sobre “Associativismos: que crises académicas? As de ontem e as de hoje” e “Mulheres na Academia: o caminho longo da igualdade”, respetivamente.
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