Um novo programa domiciliário de reabilitação/manutenção respiratória, considerado um tratamento essencial para cerca de 40% das pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), permite aumentar significativamente os benefícios do ponto de vista da capacidade funcional e da atividade física.

No âmbito do doutoramento realizado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), a investigadora Liliana Silva propôs-se avaliar a implementação deste programa (REHAB2LIFE).

À fase inicial, de oito semanas, a especialista em Enfermagem de Reabilitação acrescentou uma fase de manutenção, assente em educação, exercício físico e mudança comportamental. O ensaio foi iniciado em maio de 2022, na ULS de Matosinhos.

O objetivo era perceber se a fase da manutenção prolongaria por mais tempo os benefícios da reabilitação respiratória, tendo em conta que cerca de 76% dos doentes tinham de repetir o programa pelo menos uma vez.

“As pessoas voltavam a ter sintomas e limitações associadas à doença, o que fazia com que fossem novamente referenciadas para este programa. Se não houver mudança comportamental, os benefícios perdem-se ao fim de seis meses. Queremos que os benefícios perdurem”, salienta.

Mais saúde e menos despesas

Através deste trabalho, Liliana Silva demonstrou que o novo programa de reabilitação em casa, com a duração de um ano e supervisão de profissionais, está, de facto, associado a uma melhoria na capacidade funcional e na atividade física dos doentes com DPOC.

“Conseguimos melhorar em cerca de dois mil passos (mediana) a atividade física das pessoas, de forma estatisticamente significativa. Através do número de vezes que as pessoas se levantam num minuto, sem apoio, observámos uma melhoria da capacidade funcional que é clinicamente relevante. Estas pessoas começam a andar mais facilmente e têm menos risco de quedas”, realça.

Ao aumentar a atividade física, este programa pode contribuir também para uma diminuição da mortalidade, das exacerbações (ou crises), das idas à urgência, dos internamentos e, consequentemente, das despesas em saúde.

“Numa exacerbação, estes doentes estão internados, em média, durante oito dias. Cada internamento tem um custo de 2.137 euros”, contabiliza a investigadora da FMUP.

Doentes com mais limitações são quem mais beneficia

Como frisa Liliana Silva, “os doentes mais graves, com maior limitação funcional e mais sedentários são os que mais beneficiam deste programa”. Estes doentes, entre os quais alguns com insuficiência respiratória, são também os que menos aderem à reabilitação no hospital.

A realização do programa domiciliário permite, assim, resolver problemas existentes no acesso dos doentes à reabilitação respiratória, mas também adaptá-la a cada caso em concreto. “O facto de os doentes estarem em suas casas, com os seus recursos, pode potenciar uma mudança de comportamentos que faça sentido para cada pessoa”, sublinha a investigadora, referindo-se ainda à importância da componente multidisciplinar.

A partir de agora, Liliana Silva defende que o caminho passa pela integração de cuidados e também pela “vontade política” de implementar estes programas nas ULS a nível nacional, incluindo a criação de indicadores que tornem possível a sua execução.

A DPOC é a terceira causa de morte a nível mundial. Em Portugal, calcula-se que existam, atualmente, cerca de 800 mil pessoas com esta doença. Muito prevalente em pessoas acima dos 40 anos de idade, esta doença respiratória crónica pode provocar sintomas, como dificuldade em respirar e cansaço, que limitam progressivamente a realização de atividades simples do dia a dia, incluindo andar e tomar banho.