Um estudo pioneiro publicado recentemente na prestigiada revista Nature, e no qual participou Paulo Célio Alves, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) e professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), revela um preocupante declínio da diversidade genética em espécies de todo o mundo. No entanto, os investigadores também destacam exemplos promissores em que esforços de conservação estão a fazer a diferença.
O artigo agora publicado representa a análise mais abrangente da diversidade genética já realizada, cobrindo mais de três décadas de dados (1985-2019) e 628 espécies de animais, plantas e fungos em ecossistemas terrestres e marinhos.
Os resultados mostram que dois terços das populações analisadas estão a perder diversidade genética, um fator crucial para a resiliência das espécies face às mudanças ambientais. Contudo, ações como restauro de habitat, programas de reprodução em cativeiro e transferência de indivíduos entre populações têm demonstrado efeitos positivos, ajudando a manter e até aumentar a diversidade genética de algumas espécies.
A manutenção da diversidade genética é crucial para a resiliência das espécies às mudanças ambientais bem como à ocorrência de novos agentes patogénicos, e assim para a preservação da biodiversidade global. Este estudo fornece evidências sólidas de que a perda de diversidade genética está a ocorrer numa escala global e destaca a urgência de implementar medidas de conservação para proteger a integridade genética das populações de espécies.

Paulo Célio Alves é docente do Departamento de Biologia da FCUP e investigador dos grupos CONGEN e WILDEcol do BIOPOLIS-CIBIO. (Foto: DR)
Lince Ibérico é exemplo a seguir
Entre os casos bem-sucedidos destacados no estudo está o Lince Ibérico (Lynx pardinus). Embora esta espécie tenha sido extinta em Portugal e atingido valores populacionais muito baixos em Espanha, ocorrendo uma significativa perda da diversidade genética, os programas de reprodução em cativeiro e de reintrodução em Portugal e em várias regiões de Espanha, conseguiram reverter a situação a nível dos efetivos populacionais e controlar a perda da diversidade genética.
Apesar destes sucessos, menos de metade das populações ameaçadas analisadas beneficiaram de alguma forma de gestão de conservação, evidenciando a necessidade urgente de expandir e reforçar estas iniciativas.
“Não há dúvida de que a biodiversidade está a diminuir a um ritmo sem precedentes. No entanto, este estudo, realizado a uma escala global, demonstra não só a necessidade de monitorizar a perda da diversidade genética de uma forma sistemática e continua, bem como que as ações de conservação podem reverter essas perdas e criar populações geneticamente diversas e resilientes”, enfatiza Paulo Célio Alves.
Os investigadores esperam que estas descobertas incentivem políticas mais eficazes e ampliem as proteções para espécies que ainda não estão sob gestão ativa.