No âmbito das celebrações dos 50 Anos do 25 de Abril, a comunidade da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) foi convidada a refletir sobre o tema da “Liberdade”. Sobre que fizemos e o que fazemos com ela. As obras inéditas que resultaram deste Concurso de Escrita Criativa obedecem aos géneros literários da prosa, poesia e banda desenhada. Com a exceção da Banda Desenhada, estes trabalhos serão publicados próximo número (dois) da Revista PÁ POESIA & OUTRAS ARTES.
Na categoria da Prosa, o Primeiro Prémio foi atribuído a Um lugar Comum. Neste texto, Abel Dantas fala-nos de um lugar cercado por muralhas de medo e solidão, para nos lembrar que são sombras, o que tantas vezes julgamos ser real. Que é preciso acreditar na energia de quem nos rodeia para ressignificar a porta de saída da muralha. “O homem que esteve aqui mostrou-nos que tudo o que precisamos já está aqui, mas recusamos ver isso. Eu fui procurá-lo, para compreender melhor. Entretanto, partilhem o que têm e talvez encontrem mais do que aquilo que perderam.”
Ainda na Prosa, Afonso José Pereira Couto apresentou Fogo que Arde sem se Ver com o qual obteve uma Menção Honrosa. Diz ser uma homenagem à obra Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, fazendo ainda, claro está, uma direta alusão a um dos mais famosos poemas, escrito em língua portuguesa, pela mão de Luís Vaz de Camões.
Antes de nos convidar a “arder no fogo”, Afonso Pereira reflete, connosco, sobre o facto de os livros serem “objetos unidimensionais”. Isto na medida em que um “texto flui num sentido apenas, uma corrente da qual escapar é fútil, pois nada mais existe no mundo narrativo a não ser a corrente. É um rio tirano que tudo leva”. Ora, para nos dar a opção de contrariar o fluxo desse rio, o autor oferece opções que nos permitem “lutar contra essa tirania”. Como? Criado hiperligações: “basta um clique na escolha a ser feita, e as personagens obedecer-lhe-ão”. Desta forma o leitor pode “vivenciar”, ou contornar a corrente do texto.
Outra Menção Honrosa foi para E se as Luas de Saturno Fossem Jaulas Metálicas? Nesta prosa, José Nuno Barbosa Quintas acelera as cordas do relógio e faz a transposição para um cenário futurista. Estamos perante um documento confidencial “retirado dos Arquivos Públicos do Império da Terra” com acesso limitado à “permissão de um membro do Absoluto Governo da Terra com autoridade A-3 ou superior”.
Transgredindo as instruções, abrimos as páginas do diário do ano de 2230 de Daniela Silva. Esta cidadã do Império da Terra trabalhou num centro de operações de “Extração de Trítio”, a orbitar o planeta de Saturno. Prescindindo de fontes renováveis ou alternativas para produzir energia na Terra, passou a ser Saturno a fornecer o material necessário aos Reatores de Fusão Nuclear (recentemente descoberta). O certo é que todas as pessoas mencionadas no documento desaparecem. O que terá acontecido?
Na Poesia, o Primeiro Prémio foi para Simão Pedro de Sousa Macedo, pelo trilho de pétalas de cravo que seguiu, para mostrar a difícil conquista da Liberdade (título do poema). Foram ainda atribuídas duas Menções Honrosas, uma delas a Inês da Assunção Aparício Pereira e A Palavra que, embora “fugitiva”, acaba por cair “dentro de um texto”. Isto porque é preciso “Treinar a Liberdade”.
A outra Menção Honrosa foi para Memória, de Beatriz Mateus, que nos interpela com uma pergunta: “Como lembrar o que não se viveu?”
A submissão de propostas para o número dois da Revista PÁ POESIA & OUTRAS ARTES decorre até ao dia 28 de janeiro.