A investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) Ana Beatriz Lobo de Almeida ganhou uma Bolsa de Iniciação à Investigação 2025 atribuída pela Liga Portuguesa contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte (LPCC-NRN), com o “METFOR_ENDO Project: Could Metformin prevent Endometrial Cancer in Women with Endometriosis? Uncovering Shared Molecular Mechanisms”, que irá analisar a ação da metformina no cancro do endométrio e na endometriose.
Aos 24 anos de idade, Ana Beatriz Lobo de Almeida foi uma das 10 investigadoras – seis das quais da U.Porto – a receber uma Bolsa de Iniciação à Investigação, no âmbito de um concurso que visa “possibilitar” o desenvolvimento de um projeto na área da Oncologia.
“As bolsas da LPCC vêm apoiar os jovens investigadores como eu a desenvolver projetos de investigação na área da oncologia. Para mim, ganhar esta bolsa é, para além de um reconhecimento, uma motivação e um incentivo para continuar a fazer investigação e seguir uma carreira científica”, reage a investigadora, que repete assim a bolsa conquistada em 2024, então com um projeto sobre o cancro testicular.
Com um valor anual de 14.400 euros, a Bolsa entregue à jovem investigadora da FMUP irá permitir investigar como respondem as células de cancro do endométrio e as células do endométrio de mulheres com endometriose à metformina (tratamento de primeira linha na diabetes tipo 2), identificando os mecanismos e vias moleculares comuns a ambas a doenças, bem como os respetivos perfis moleculares.
“Este projeto foca-se na possibilidade de intervir farmacologicamente numa doença não oncológica, mas que se sabe aumentar o risco de cancro. Com esta investigação aspiramos identificar mecanismos de oncogénese na endometriose e de que forma poderão ser controlados”, afirma a investigadora, que integra a Unidade de Biologia Experimental do Departamento de Biomedicina da FMUP, com a orientação de Delminda Neves e Alexandra Gouveia, professoras desta Faculdade.
Um estudo promissor
O grupo em que Ana Beatriz Lobo de Almeida se insere tem vindo a desenvolver investigação sobre endometriose e sobre o papel da metformina, tendo já demonstrado “efeitos promissores na reversão do cenário de infertilidade associado à endometriose através de um modelo animal”.
Em termos laboratoriais, “este novo projeto irá envolver ensaios in vitro em linhas celulares tumorais e em culturas primárias de tecido do endométrio de pacientes com e sem endometriose, de forma a compreender mecanismos e vias de proliferação, apoptose, inflamação, resposta ao stress oxidativo e comunicação intercelular comuns a ambos os modelos e, paralelamente, avaliar a resposta destas células à exposição à metformina”.
Espera-se que esta investigação forneça “uma maior compreensão dos processos moleculares envolvidos tanto na endometriose como no cancro do endométrio” e traga “novas informações relativamente à relação existente entre ambas as doenças”. Para além disso, “o estudo do perfil molecular poderá ajudar a construir um caminho para a identificação de novos biomarcadores para diagnóstico, monitorização e tratamento personalizado de ambas as condições”.
Segundo Ana Beatriz Lobo de Almeida, “o estudo do efeito do tratamento com metformina, que parece ser uma opção terapêutica segura e promissora, para além de ajudar na compreensão dos mecanismos de ação, poderá também trazer novas perspetivas terapêuticas para as mulheres diagnosticadas com estas doenças. É nosso objetivo contribuir para o conhecimento, quer da endometriose, quer do cancro do endométrio e dessa forma contribuir para as estratégias de prevenção da progressão tumoral”.
A endometriose é uma doença inflamatória crónica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Esta doença é caraterizada pela presença de tecido endometrial (tecido que normalmente reveste o interior do útero) em locais fora da cavidade uterina, maioritariamente na cavidade pélvica (exemplos: ovários, reto, vagina e trompas de Falópio). Entre os sintomas mais frequentes encontram-se a dor pélvica e a infertilidade/dificuldade em engravidar, com um grande impacto na qualidade de vida destas mulheres.
Por sua vez, o cancro do endométrio é considerado o cancro ginecológico mais prevalente correspondendo a cerca de meio milhão de casos anuais em todo o mundo.
Sobre Ana Beatriz Lobo de Almeida
Natural de Vouzela (Viseu), Ana Beatriz Lobo de Almeida é licenciada em Biotecnologia Medicinal pela Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto e mestre em Oncologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto.
Especialmente interessada nas áreas da Oncofertilidade e da Medicina da Reprodução, tem realizado diversos cursos, como o curso “Sexualidade, Fertilidade e Cancro” através da Liga Portuguesa Contra o Cancro, de que é atualmente bolseira de Investigação com este projeto em desenvolvimento na FMUP.
Na FMUP desde janeiro deste ano, como “Research Fellow”, a jovem cientista assume-se como uma “investigadora motivada pela curiosidade em relação ao mundo fascinante da ciência e da saúde”. Considera-se também uma “sonhadora” e uma “criativa” que trabalha “incessantemente para encontrar respostas”.