O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e o Ipatimup inauguram, no próximo dia 16 de janeiro, pelas 17h30, a exposição “O Estranho Terrível Outro”, uma mostra individual que resulta de um conjunto de conversas sobre cancro entre o artista Agostinho Santos e o patologista Manuel Sobrinho Simões.
No ano em que Agostinho Santos comemora quatro décadas de carreira artística, esta exposição reúne um conjunto de pinturas, desenhos e esculturas que o artista plástico produziu a partir de imagens reais de tecidos humanos obtidas pelo patologista Manuel Sobrinho Simões. Essas imagens serviram, originalmente, como elementos de diagnóstico, mas também como paisagens visuais que ofereceram um terreno fértil para explorar perceções, metáforas e narrativas sobre o cancro do ponto de vista de um não-especialista, e muito particularmente de um artista.
As narrativas dos médicos e cientistas e as de não-especialistas em torno do cancro raramente partilham o mesmo campo semântico. Para o indivíduo comum, o cancro é frequentemente percebido como algo externo, um “outro” que invade e que é urgente combater. Já para os especialistas, a abordagem é mais explicativa daquilo que descontrola algumas células do indivíduo e focada no tratamento que, de alguma forma, elimine ou mantenha sob controlo as células cancerígenas.
As duas perspetivas ou visões raramente se encontram, ainda que conversem em torno do mesmo objeto: o cancro. É neste ponto de tensão, no limiar em que o imaginário permeia a realidade e vice-versa, que as artes plásticas emergem como forma de arrumar aquilo que os “outros entendimentos” desarrumam. A exposição “O Estranho Terrível Outro” busca, assim, criar um espaço de coabitação entre essas duas narrativas.
O conceito de “O Estranho Terrível Outro” já tinha sido explorado num ciclo de conferências realizado em 2001 no âmbito da Porto Capital da Cultura e, na altura, deu origem ao livro «Os Outros em Eu», publicado pelo Ipatimup. Agora retomado em título, o conceito traduz a dualidade de perceções e entendimentos sobre o que é o cancro, estabelecendo um diálogo entre a objetividade da investigação realizada no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e a subjetividade do universo artístico de Agostinho Santos.
Com curadoria de Felícia de Sousa, a exposição concretiza-se então como espaço de coabitação entre diferentes narrativas sobre o cancro e desenvolve-se na dualidade de visões: “domesticar o eu selvagem” e “o confronto belicista com o estranho”. As obras estarão patentes ao público até 19 de março, entre as 9h00 e as 17h00, no átrio principal do i3S.
Sobre Agostinho Santos
Nascido em 1960, em Vila Nova de Gaia, Agostinho Santos é jornalista, artista plástico, investigador e curador independente.
Mestre em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP), doutorado em Museologia pela Faculdade de Letras (FLUP) e pela FBAUP e pós-doutorado em Ciências da Arte e do Património pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, é atualmente diretor da Bienal Internacional de Arte de Gaia, coordenador do Projeto Onda Bienal, presidente do Conselho de Administração da Artistas de Gaia – Cooperativa Cultural e mentor e fundador do Projeto Museu de Causas / Coleções Agostinho Santos.
Enquanto artista plástico, realizou mais de 150 exposições individuais e participou em mais de 500 mostras coletivas, no país e no estrangeiro.