Portugal possui uma das menores taxas de voluntariado na Europa, com um índice que caiu de 11,5% em 2012 para 7,8% em 2018, sendo que a maior parte das ações de voluntariado ocorre dentro de organizações (de forma organizada), no setor social.

Com o objetivo de compreender as motivações dos voluntários que apoiam a população marginalizada – com doença mental ou no sistema prisional – um estudo recente do Instituto de Ciência Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, destaca a importância de “explorar o impacto positivo do voluntariado na reintegração social e no combate ao estigma nestas populações”, como explica Mariana Pinto da Costa, docente do ICBAS e orientadora deste trabalho.

Face ao crescente aumento do número de reclusos em Portugal, bem como do número de voluntários nas prisões, é fundamental compreender “o impacto do voluntariado sobre os próprios voluntários e sobre aqueles que eles apoiam ao longo do tempo, incluindo os benefícios psicológicos e sociais envolvidos. Este trabalho constitui mais um passo nesse sentido”, explica a investigadora.

Das principais conclusões deste trabalho de Lara Dá Mesquita, realizado no âmbito do Mestrado em Medicina Legal do ICBAS (já concluído), destacam-se as principais motivações apontadas pelos voluntários, nomeadamente a solidariedade e a influência positiva do contacto com outros voluntários.

No que toca a fatores motivacionais, muitos dos entrevistados referem o “altruísmo, o compromisso com causas sociais, o sentido de responsabilidade social, a influência de recomendações e ainda a inspiração de terceiros”, conforme descrito na publicação “Volunteering across contexts: comparing attitudes toward volunteering with prisoners and people with mental illness”.

O estudo revela ainda diferenças entre os grupos de voluntários analisados: “os que trabalham com pessoas com doença mental mencionaram o desejo de obter reconhecimento e estatuto social como motivação. Já os voluntários que atuam em prisões citaram motivações centradas no crescimento pessoal e na oportunidade de sair da sua zona de conforto, alinhando-se com resultados de uma revisão sistemática que identificou motivações semelhantes, incluindo a vontade de enfrentar situações desconfortáveis”.

Para Mariana Pinto da Costa, é importante explorar outras variáveis que impactam a satisfação e a motivação destes voluntários: “estudos futuros que analisem de forma mais aprofundada de que forma as características individuais, como género, idade, escolaridade e extrato socioeconómico, influenciam a experiência do voluntariado, quer em termos de motivação, quer na eficácia e satisfação das atividades realizadas, parecem-nos pertinentes”.

Para a investigadora “o voluntariado nas prisões é fundamental para reduzir o isolamento social e combater o estigma associado à doença mental e aos estabelecimentos prisionais”.

Em estudos futuros, será importante “explorar, por exemplo, como as novas tecnologias podem ser integradas para ampliar o alcance e a acessibilidade das iniciativas de voluntariado, tornando-se ferramentas valiosas”, conclui.