Suscitar a reflexão sobre os benefícios e os perigos da Inteligência Artificial (IA). Foi este o objetivo do “Prós e Contras da Inteligência Artificial: IA na Saúde, IA na Sociedade”, um debate que juntou especialistas de diferentes áreas na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Neste evento, os oradores abordaram temas como o impacto da IA na medicina, na investigação científica, no sistema de saúde e na saúde pública, bem como o seu reflexo na economia, no mercado de trabalho e na proteção social.

Na sua intervenção, Rui Nunes destacou que “a saúde é um dos setores onde a IA tem maior impacto e em todas as especialidades médicas”.

O professor da FMUP afirmou que é fundamental que a sociedade, nomeadamente a comunidade académica, perceba o impacto que a IA está a ter no presente e que irá ter no futuro. “Este debate surge em um momento de intenso escrutínio social da inteligência artificial nos diferentes domínios da nossa vida coletiva”.

O especialista em Bioética lembrou ainda que “há ameaças que têm de ser devidamente pensadas e reguladas para que estas tecnologias sejam vistas como numa enorme evolução civilizacional, em vez de uma ferramenta que possa prejudicar a vida das pessoas”.

Utilização “desmedida” pode trazer riscos

Raquel Varela apresentou uma visão “pessimista” sobre a utilização da IA, como a própria caracterizou. A historiadora e investigadora alertou para os múltiplos perigos em diversas áreas da sociedade, enfatizando o seu potencial de agravar as desigualdades sociais.

“Queremos que os médicos utilizem a máquina no apoio à decisão ou que se tornem um apêndice da máquina?”, foi uma das questões levantadas por Raquel Varela.

De acordo com a professora da Universidade Nova de Lisboa, “o que observamos é que a IA está a ser introduzida numa sociedade capitalista, em que os mecanismos de lucro e rentabilidade se sobrepõem aos objetivos do cuidado e do que deve representar a medicina”.

Rui Guimarães, presidente do Conselho de Administração da ULS Gaia/Espinho, destacou, por sua vez, os riscos associados à utilização “desmedida” da IA.

Apesar dos alertas ouvidos e com os quais concordou, o médico de Gaia/Espinho apontou, ainda assim, alguns projetos de IA que estão a ser implementados na área da saúde, com ganhos de eficiência e de ajuda, em especialidades como a Gastrenterologia e a Radiologia. “Em vez de o que é mais eficiente, deveríamos estar a perguntar o que nos torna mais felizes”.

O clínico frisou ainda uma aparente contradição atual, em que “as máquinas estão mais inteligentes e as pessoas, aparentemente, estão com maiores problemas de relacionamento e aprendizagem”.

A sessão contou ainda com as intervenções de Guilhermina Rego, professora e membro do Conselho Executivo da FMUP, e João Fonseca, também professor da FMUP e diretor da Licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica.

O debate “Prós e Contras da Inteligência Artificial: IA na Saúde, IA na Sociedade” esteve inserido no âmbito das comemorações do Bicentenário da FMUP.