O projeto AlgaBioTec, que envolve uma equipa de investigadores do CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, é o vencedor da quarta edição do concurso BluAct, uma iniciativa da Câmara Municipal de Matosinhos – com o apoio da UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto – que visa premiar as melhores ideias de negócio na área da economia azul.

O AlgaBioTec é um projeto de empreendedorismo que pretende resolver dois grandes desafios atuais na costa portuguesa: a acumulação de macroalgas nas praias e o aumento da poluição por plásticos.

Em resposta a estes problemas, o projeto, que envolveu duas investigadoras do CIIMAR, pretende fazer a transformação das macroalgas das zonas costeiras em recursos sustentáveis e valiosos para a sociedade, particularmente na área da agricultura. Para isso, pretende criar um bioplástico biodegradável através de um processamento mínimo destas macroalgas, cuja fonte inerente de nutrientes cria a possibilidade de ser usado também como fertilizante de baixo custo.

O projeto foi desenvolvido pelas investigadoras Isabel Cunha e Isabel Oliveira do grupo de investigação em Biotecnologia azul, saúde e ambiente do CIIMAR, em colaboração com Raquel Vaz, antiga estudante da Faculdade de Ciências (FCUP) e da Faculdade de Engenharia (FEUP) da U.Porto e atual estudante de doutoramento da Universidade de Coimbra, e o gestor Paulo Patrício.

Desta colaboração nasceu então uma tecnologia simples e económica que recorre à utilização de resíduos marinhos, e a um processamento mínimo das macroalgas que não obriga à extração de biopolímeros ou fermentação bacteriana.

Do AlgaBioTEc resultou também a criação de um bioplástico degradável com bioatividade inerente que, ao ser utilizado na agricultura como fertilizante, promete uma libertação prolongada de nutrientes no solo, melhorando o crescimento dos plantios.

Do laboratório para o mundo real

A grande final do BluAct 2024 decorreu no passado dia 26 de novembro, no Edifício dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Matosinhos, ocasião em que foram apresentados os sete projetos finalistas.

“Não estávamos a contar com o primeiro lugar, pois temos algumas equipas com ideias mais otimizadas, mas é incrível. Temos a possibilidade de fazer uma translação do que se passa em laboratório para uma situação real”, afirmou Raquel Vaz, uma das vozes do BluAct.

Manuela Álvares, vereadora do Ambiente da CM Matosinhos, relembrou que o município “retira toneladas de algas das praias [na época da limpeza], que depois têm de ser levadas a destino final”. O projeto da AlgaBioTec é, por isso, uma opção “mais sustentável e com poucas emissões”, acrescentou.

Maria Oliveira, Diretora de Negócios da UPTEC, revelou que esta é uma sinergia óbvia “para trazer novos projetos”, acrescentando que “há sempre um ou outro que se destaca, como projetos da ligação das algas, dos resíduos dos polímeros ou dos plásticos”.

Para além de um prémio de 5 mil euros, oferecido pela INDAQUA Matosinhos, a equipa vencedora garantiu também a participação gratuita na próxima edição da Escola de Startups da UPTEC.

Em segundo lugar, ficou o projeto SUSPLUS, uma solução para a gestão do impacto climático de empresas com génese na Faculdade de Economia da U.Porto (FEP) e na FEUP. Esta equipa conquistou, ainda, o prémio de 2 500 euros atribuído pelas Conservas Portugal Norte ao projeto com maior impacto na indústria conserveira .

Já o SISMEM, um sistema de monitorização e intervenção em espécies marinhas que utiliza Inteligência Artificial para analisar comportamentos e condições ambientais, arrecadou o terceiro prémio.

Os três primeiros classificados do BluAct vão ter acesso a incubação gratuita na UPTEC Mar durante um ano.

Sobre o BluAct

Com quatro edições já realizadas, o BluAct é uma iniciativa da Câmara Municipal de Matosinhos – com o apoio da UPTEC, com, INDAQUA Matosinhos e Conservas Portugal Norte – dirigida a pessoas com projetos empresariais/ideias de negócio e empresas já legalmente constituídas, até cinco anos, que tenham um impacto significativo na economia azul.

O galardão premeia as ideias de negócio relacionados a sustentabilidade no setor da água; pesca, transformação, conservação e comercialização do pescado; aquacultura, bio recursos e biotecnologia azul; portos, transportes e logística; indústrias navais e energias marinhas; náutica e turismo náutico, desde que produzam efeito na economia do mar, entre outras.