A Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) revelou recentemente dois estudos inéditos que apontam para a baixa qualidade da informação sobre produtos cosméticos nas redes sociais, e para níveis preocupantes de literacia em saúde da população portuguesa em relação a esses produtos.

O primeiro estudo, publicado no Journal of Consumer Health on the Internet, analisou a qualidade da informação partilhada por influenciadores no Instagram.

Realizada pelo Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da FFUP, em colaboração com a Faculdade de Medicina (FMUP) e a Faculdade de Letras (FLUP) da U.Porto, a investigação concluiu que os influenciadores populares frequentemente geram informação confusa, pouco precisa e misturada com publicidade, sem mencionar aspetos relacionados com a segurança.

A coordenadora do estudo, Isabel Martins de Almeida, docente da FFUP, destacou que “os influenciadores populares eram cerca de dez vezes mais propensos a partilhar informações confusas do que especialistas na área cosmética”.

Marta Salvador Ferreira, autora do trabalho e farmacêutica, e igualmente influenciadora digital, reforçou que “75% dos posts com publicidade, desses influenciadores, continham informações confusas, em contraste com apenas 25% de informação confusa, nos perfis de especialistas”.

Estes dados reforçam, segundo a autora, o “impacto da formação especializada na qualidade da informação”.

Literacia em saúde com níveis preocupantes

O segundo estudo, também coordenado por Isabel Martins de Almeida, avaliou a literacia em saúde de 1.158 portugueses sobre produtos cosméticos, utilizando um questionário adaptado e validado para a população nacional.

Os resultados indicaram que 75% a 80% dos participantes apresentavam níveis inadequados ou problemáticos de literacia, com dificuldades particularmente acentuadas na avaliação de informação e prevenção de efeitos adversos.

Explica Isabel Martins que “estes níveis são especialmente baixos no que diz respeito à avaliação e aplicação de informação de saúde relativa a estes produtos e ao domínio da prevenção da falta de uso, uso indevido, abuso e efeitos indesejáveis de produtos cosméticos”.

Apesar de os dados apontarem para que cada português utilize entre seis e 10 produtos cosméticos diariamente, em contraste com a média europeia que situa entre os 8 e 16, a capacidade para compreender e aplicar informações sobre estes produtos é insuficiente.

Sobre esta questão, Marta Ferreira salienta que “uma baixa literacia acerca destes produtos poderá prejudicar a tomada de decisão informada dos consumidores aquando da escolha, aquisição e utilização de produtos cosméticos, e pode conduzir a efeitos negativos para a saúde”.

Os dados permitem ainda concluir que a utilização de produtos cosméticos está diretamente relacionada com os índices de literacia. Também a idade é um fator determinante já que idosos acima de 65 anos demonstraram maior vulnerabilidade, sentindo-se menos confiantes na utilização segura desses produtos.

Impactos e próximos passos

Ambos os estudos evidenciam os riscos associados à desinformação e à baixa literacia em saúde, que podem levar a escolhas inadequadas e ao uso incorreto de produtos cosméticos, com potenciais consequências negativas para a saúde. A equipe de investigadores planeja aprofundar as análises sobre o impacto da desinformação e propor estratégias para melhorar a comunicação e o acesso a informações mais rigorosas e éticas.

Essas pesquisas foram conduzidas no âmbito do Doutoramento em Ciências Farmacêuticas de Marta Salvador Ferreira e contaram com a colaboração das unidades de investigação UCIBIO, CINTESIS@RISE e CITCEM.