Impulsionar a inovação sustentável no que toca à resistência microbiana a antibióticos é o propósito “InnovAntiBiofilm”, um projeto coordenado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e que contará com um financiamento de 1,5 milhões de euros, obtido através do programa Horizon Europe da Comissão Europeia.

Coordenado por Manuel Simões, docente no Departamento de Engenharia Química e Biológica da FEUP, o “InnovAntiBiofilm” pretende desenvolver estratégias inovadoras para dar uma resposta sustentável e eficaz à resistência microbiana a antibióticos através do uso de compostos químicos obtidos de plantas.

“A resistência antimicrobiana é conhecida pela pandemia silenciosa, estando a comprometer muitos dos avanços alcançados pela medicina moderna. As plantas são uma fonte inexplorada e sustentável de compostos químicos, cujo efeito no controlo da resistência microbiana é pouco conhecido”, avança o coordenador do projeto.

O trabalho vai focar-se essencialmente no controlo das estruturas microbiológicas chamadas “biofilmes” – comunidades de microrganismos, como bactérias e fungos – predominantes nas infeções mais complicadas de tratar, não sendo conhecido qualquer tratamento terapêutico eficaz para restringir a sua proliferação.

“Caminhamos para um cenário em que deixaremos de ter opções terapêuticas (antibióticos) para tratar a mais comum infeção bacteriana. A resistência a antibióticos é severa quando se trata de uma infeção com biofilme. Não existe atualmente qualquer antibiótico que seja por si só eficaz na erradicação do biofilme, uma vez que os microrganismos presentes nessa estrutura biológica complexa beneficiam de diversos mecanismos de resistência à ação de antibióticos”, explica Manuel Simões, que é também  membro do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), estrutura que integra, juntamente com o LSRE-LCM e o CEFT, o Laboratório Associado ALiCE, sediado na FEUP. 

Com o uso de ferramentas avançadas de engenharia metabólica e de bioprocessos, serão produzidas em biorreatores, de forma sustentável, moléculas de plantas com ação antimicrobiana. No projeto “InnovAntiBiofilm”, a estrutura dessas moléculas será também otimizada para melhorar a sua ação antimicrobiana ou inibidora de mecanismos específicos de resistência.

Segundo Manuel Simões, o “desenvolvimento de novas moléculas de base natural com ação antimicrobiana” – que se preveem “promissoras no controlo de bactérias infeciosas e inibidoras de mecanismos de resistência a antibióticos – vai permitir a reciclagem de antibióticos considerados de menor valor terapêutico”.

Produzir investigação de referência nesta área do conhecimento só se torna possível com o envolvimento de duas instituições internacionais reconhecidas pelo seu trabalho em engenharia metabólica e química medicinal – a Fraunhofer-Gesellschaft, na Alemanha, e o Commissariat à L’energie Atomique et aux Energies Alternatives (CEA), em França, em parceria com a KPMG & Associados SROC, S.A (Portugal).